Lemos com interesse o estudo de Costa et al.(1) sobre a associação de anticorpos antifosfolípides e perdas fetais. No entanto, na seção Metodologia, os autores descrevem que "(...) trata-se de um estudo caso-controle prospectivo (...)" e, em nosso entendimento, esta definição é inadequada.Em estudos caso-controle, por definição retrospectivos, a inclusão dos "casos" é realizada quando da confirmação do evento estudado, ou seja, casos incidentes. Após a confirmação de um "caso", um ou mais "controles" do mesmo segmento da população, com características semelhantes ao "caso" que não a presença do evento estudado (ex: idade e sexo), são também incluídos na pesquisa. A partir daí, é realizada a análise comparativa nos grupos dos fatores a serem ou não associados ao evento (2) . Para tratar-se de um estudo caso-controle, nesse trabalho em questão, os "casos" deveriam ser incluídos no estudo quando do diagnóstico de perda fetal, mas os autores descrevem na sua definição que os casos apresentavam "(...) antecedentes de perdas gestacionais (...)", ou seja, tratava-se de casos prevalentes. Entendemos que a denominação adequada nesse caso seria de um estudo transversal ou seccional com grupo controle. Alguns autores sugerem uma alternativa, ainda controversa, descrita como "estudo caso-controle com casos prevalentes". Nesta variante, ainda que a avaliação seja transversal, o critério de inclusão no estudo é a prevalência do evento (ocorrido anteriormente na linha do tempo) e a partir da definição dos "casos" e "controles" os fatores associados a esse evento são analisados (3) . Esta discussão não é apenas conceitual e a distinção entre as metodologias transversal e retrospectiva a partir do evento estudado tem uma importância prática nas inferências preconizadas. Nos estudos de caso-controle, como o diagnóstico do evento determina a inclusão do caso no estudo, a avaliação de características que precederam a incidência do evento nos sujeitos de pesquisa permite sua denominação como fator de risco para esse evento. Na metodologia de análise transversal, como a utilizada no trabalho de Costa et al., não é possível estabelecer a direção da associação, ou seja, se os fatores estudados estariam presentes antes do evento ou se seriam conseqüências deste.Acredito que estas são definições relevantes para um periódico médico e devem ser comunicadas aos leitores. No entanto, a partir destes esclarecimentos, entendemos ser relevante o trabalho em análise, notadamente pela casuística descrita e pela importância do tema estudado.