IntroduçãoA doença falciforme é a alteração genética mais comum na nossa população e engloba um grupo de hemoglobinopatias herdadas, de elevada importância clínica e epidemiológica. Ela se traduz como anemia hemolítica hereditária do tipo autossômica recessiva com grande variabilidade clínica. A hemoglobina S (Hb. S) pode ocorrer em sua forma homozigota (anemia falciforme) ou associada a outra hemoglobina mutante (C, D, E) ou a defeitos quantitativos da produção das cadeias α e β da hemoglobina (síndromes talassêmicas). 9 A Hb. S, quando em heterozigose com a hemoglobina A (Hb. A), é traduzida como traço falciforme.Esta hemoglobina mutante está presente em 2% a 6 % da nossa população em geral, e 6% a 12% nos afrodescendentes.Dados oriundos da triagem neonatal nos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro mostram uma prevalência de traço falciforme de 1:21 nascidos vivos e de doença falciforme de 1:1.200 nascimentos. Na Bahia, esta incidência é maior e atinge 1:650 na doença e 1:15 nos portadores de heterozigose assintomáticos. Com base nestes dados, acreditamos que nasçam, por ano, no nosso país, cerca de 3.500 crianças novas com doença falciforme e 200.000 portadores de traço falciforme. Tal cenário permite, indubitavelmente, tratar desta patologia como problema de saúde pública.A doença falciforme afeta todo o sistema circulatório e pode causar a morte ou seqüelas irreversíveis nos mais diversos órgãos do organismo humano.A pessoa com doença falciforme, na sua imensa maioria, além de pertencer às camadas desfavorecidas economicamente, são submetidas rotineiramente aos efeitos do racismo institucional ainda tão cristalizado na nossa sociedade e que muitas vezes dificulta o acesso e a qualidade da atenção integral dispensada a essas pessoas. 1,6 Isto leva à maior vulnerabilidade e conseqüentemente a maior risco de intercorrências que podem ser fatais e seqüelantes. Daí a necessidade, por toda sua vida, do apoio das mais diversas especialidades médicas e de outros profissionais da área da saúde, considerando eventos mórbidos altamente prevalentes como: infecções pulmonares freqüentes, infarto cerebral, seqües-tro esplênico, crises de dor, entre outras.O diagnóstico precoce através da triagem neonatal e a inclusão das pessoas com diagnóstico num programa de