Resumo: Estudando crianças de 19 a 31 meses, numa perspectiva sociointeracionista, exploram-se diferentes situações de brincadeira com o parceiro de idade que parecem instigar aquisições e aprendizagens. O brincar é concebido como um espaço privilegiado de observação pelo valor motivacional prevalente que tem para as crianças. Por meio da brincadeira, ou mesmo para brincar, a criança lança mão de diversas estratégias na tentativa de resolver seus problemas (introduzir-se em um arranjo social já confi gurado, dirimir um confl ito; chamar a atenção do parceiro, tecer o enredo do episódio, conseguir um resultado semelhante com o mesmo objeto etc.). Com este trabalho pretendeu-se evidenciar a potencialidade de diversos caminhos de aprendizagem sobre eventos físicos quando as crianças lidam com objetos deixados à sua disposição. Nos episódios selecionados para análise foi possível identifi car quatro dinâmicas interacionais que revelam estratégias utilizadas pelas crianças em ações cooperativas que podem conduzir a aprendizagens e evidenciam que, mesmo bem pequenas, elas refl etem sobre suas próprias ações e as de seus parceiros. Discutem-se algumas implicações teóricas e educacionais dessas evidências.Palavras-chave: Brincadeiras. Interação criança-criança. Aprendizagem com parceiro. 1 Artigo elaborado a partir de uma das análises realizadas com os dados obtidos na pesquisa "Brincadeira infantil: divertindo-se, aprendendo e tecendo seu próprio desenvolvimento" . Um grande desafi o está sendo enfrentado pelos educadores que lidam com Educação Infantil (período que compreende de zero a seis anos de idade), principalmente aqueles envolvidos em creches ou escolas maternais que atendem crianças nos primeiros anos de vida. Esse desafi o é a substituição efetiva, e não apenas burocrática, de um modelo assistencialista de atendimento à criança por um modelo concebido com propósitos educacionais. No primeiro caso, a criança é alimentada, higienizada e supervisionada para que nada de perigoso lhe aconteça. No segundo caso, além de assistida, a criança é concebida como um ser com necessidades e características próprias de sua faixa etária, mas, sobretudo, como participante ativo de seu desenvolvimento, construindo e reconstruindo significações sobre objetos e eventos que ocorrem em seu ambiente, tarefa que compartilha com um adulto ou com um parceiro de idade.Nesse empreendimento, aliando-se aos educadores, os psicólogos da área de desenvolvimento infantil podem contribuir sobremaneira, investigando o desenrolar da ontogênese e as condições favoráveis para que esse processo possa fl uir num curso normal, onde sejam maximizadas as situações consideradas interessantes e produtivas para a criança, isto é, um ambiente saudável, que lhe dê estabilidade e segurança, fortaleça as aquisições já alcançadas, mas que seja ao mesmo tempo desafi ante para novas conquistas (cf., por ex., Lordelo & Carvalho, 2003;Oliveira, 1995;Oliveira, Mello & Rossetti-Ferreira, 1992;Oliveira & Rossetti-Ferreira, 1993;Pedrosa, 1996;Pedrosa & Carvalho, 19...