Análise do papel das expressões não manuais na intensificação em libras

Abstract

RESUMO As expressões não manuais (ENMs) nas línguas de sinais (LS) incluem movimentos do corpo e expressões faciais. As ENMs podem desempenhar diferentes funções, tais como diferenciar itens lexicais, participar da construção sintática e contribuir com processos de intensificação. Dessa forma, as expressões faciais participam da construção do significado nas LS tanto quanto os parâmetros até então mais estudados, a saber: configuração, movimentos e localização das mãos. Este trabalho tem como objetivo analisar as ENMs produzidas por uma pessoa surda, fluente em libras, a partir de enunciados divididos nas modalidades assertiva e interrogativas parcial e total. Para a análise, foi construído um corpus de 60 enunciados constituídos da seguinte forma: 10 sinais-chave × 3 modalidades × 2 condições (neutra e intensificada). Esses enunciados foram devidamente anotados considerando as expressões não manuais e analisados estatisticamente. Neste trabalho, é avaliada a duração de sinais a fim de identificar o papel da intensificação, e são verificadas quais ENMs estão significativamente presentes nas três modalidades e nas condições neutra e intensificada. Os resultados apresentados, além de contribuírem para a pesquisa nas LS, são relevantes para a modelagem de avatares realistas sinalizadores de libras.

Tecnologias digitais para surdos: (im)possibilidades na apreensão de sentidos

“…Entendemos que os movimentos faciais não serão os mesmos realizados por uma pessoa, no entanto, o avatar tem como ferramenta a realização de movimentos de sobrancelhas, ombros e boca, mas nesse caso, não foram acionados nas traduções realizadas. Esse resultado vai ao encontro de achados da pesquisa de Paiva et al (2018), quando foi evidenciado que tais expressões são condições essenciais na construção de frases em tradutores automáticos para que obedeçam a sintática e semântica da gramática em Libras. Diante do exposto, há que se evidenciar que além dos sinais realizados com as mãos, é vital contextualizar o que está sendo dito mediante as expressões faciais (marcas não manuais) que dão a entonação da frase "falada", que para Quadros e Karnopp ( 2004), através dessas expressões é possível perceber emoções, sentimentos e entonações que perfazem a frase no contexto de uma conversação.…”

“…Todos os quadros que compõem essa frase interligam-se entre si, nos contando algo desde o início. Como já exposto e indo ao encontro dos achados na literatura Brito (1995), Quadros (1999), Quadros e Karnopp (2004), as expressões não manuais são de suma importância nas frases sinalizadas pois, além de oferecerem suporte, suscitam pistas e acionam todo o corpo como forma de expressão e linguagem.…”

“…Tendo em vista essas proposições, o atraso cognitivo, linguístico, e que perfazem aspectos sociais em que pessoas surdas possam estar submetidas, remetem a um profundo debate acerca desse tema, pois diferentemente do que se pensa, os problemas decorrentes da esfera comunicacional não circunscrevemse ao fato da condição de surdez, sendo por outro lado, decorrentes do meio social em que as mesmas estão inseridas, que não tem se mostrado adequado por desconsiderar a língua natural desses indivíduos (QUADROS, 1999).…”

“…Nesse sentido, é oportuno esclarecer que pessoas surdas utilizam o próprio corpo para comunicar algo, pois a Libras é uma língua que utiliza pontos de apoio no corpo, no espaço neutro, além das mãos. Além disso, tem-se ainda as expressões faciais que dão entonação às falas, utilizando-se movimentos da cabeça, do corpo, pontos no espaço para comunicar sentimentos, ideias, formular questionamentos, "falas" da ordem do não dito, mas que são inscritas nos olhares, em movimentos da boca, sobrancelha, entre outros elementos que compõem essa língua (QUADROS, 1999). Para Merleau-Ponty (1999), utilizamos o corpo para ser mundo, para nos manifestarmos no mundo, sendo esse um dos modos de apreender o mundo por surdos.…”