Na década de 1910, os espaços rurais brasileiros ganharam notabilidade nos debates higienistas, tornando-se alvo de políticas sanitárias. Era sustentada uma imagem de atraso do campo que imobilizava o progresso nacional, levando ao apelo de higienistas em favor da difusão da higiene no interior para aprimorar os sujeitos rurais, levando-os a um trabalho produtivo. Na década seguinte, a ESAV veio a ser fundada no interior de Minas Gerais, na cidade de Viçosa, no intuito de promover o crescimento econômico do estado. Tendo em vista esse cenário, objetivou-se analisar a presença de saberes e práticas higienistas na concepção, na construção e no estabelecimento do projeto formador esaviano entre os anos de 1920 e 1935. Para isso, foram mobilizadas fontes referentes a relatórios institucionais, atas de reuniões, correspondências, questionários aos alunos, livro de visitas, inquéritos e outros documentos, que permitiram investigar o projeto formador da Instituição. O trato metodológico das fontes foi orientado pela História Cultural, especialmente pelo ofício do historiador em Certeau (2015), e da construção narrativa em Benjamin (2012) e Ginzburg (1989). Neste estudo, identificou-se que a ESAV foi concebida em meio a um bojo de ações sanitárias direcionadas aos espaços rurais. Com isso, propiciou-se que o projeto formador esaviano fosse impregnado por marcas higienistas, constituídas desde o período de construção, no trabalho com os operários rurais. Com o início das atividades de ensino em 1927, as primeiras ferramentas higiênicas foram ampliadas por investimentos institucionais e sofreram reestruturações, expandindo a difusão de saberes e práticas higiênicos entre o pessoal esaviano e seus familiares, no caso dos servidores. Destacaram-se, na constituição do projeto, atores como Belo Lisboa — que, em sua inserção institucional, instigou a criação de ferramentas e possibilitou o avanço das pretensões higienistas — e o médico dr. Raymundo Faria — o qual, ao entrar na Escola, tornou o Serviço de Saúde da ESAV um meio de difusão da higiene entre o pessoal, expandindo a presença da higiene e produzindo a atualização das ferramentas em conformidade com os pressupostos higienistas em voga. Assim, o projeto formador esaviano foi constituído por um conjunto de saberes e práticas higiênicos visando à limpeza dos sujeitos rurais, de forma a permitir a participação do poder médico-higiênico no estabelecimento da Instituição. Palavras-chave: Higienismo. Sanitarismo. ESAV. Campo. Sujeitos rurais.