A sombra do imortal: reflexões sobre a nação e a memória

Abstract

o homem sem sombra, da proto-kafkeana fábula de Chamisso, parece impor uma tensão enorme à razão contemporânea pois, além da ambigüidade infinita de significados da parábola do homem que perdeu sua sombra, parece impingir-nos a figura inquietante do indivíduo sem memória, sem identidade e sem nação -portanto, sem possibilidade de superar a tragédia da mortalidade e o sono profundo do esquecimento. Podemos lembrar ainda o que, ironicamente, Chamisso escreveu no prefácio da edição francesa do seu Schlemihl. Transcrevendo a definição de sombra de um alfarrábio antigo, que, de forma oblíqua, dizia que lia sombra propriamente dita representava um sólido cuja forma depende, ao mesmo tempo, do corpo luminoso, do corpo opaco e da posição deste em relação ao corpo luminoso", Chamisso terminava com uma recomendação ainda mais sibilina aos sábios coetâneos: Pensai no sólido!1 Como metáfora da solidez da cultura de uma classe mas, também, símbolo da agregação humana e da nacionalidade invisível de cada homem, a sombra constituía parte do projeto difusamente iluminista de Chamisso.

O Ensino de História nas Escolas Técnicas Federais: história e cultura escolar (1959-1974)

“…A isto se contrapôs uma concepção mais cultural de nação, formulada pelas diversas correntes do historismo romântico -uma "nação-instinto", o espírito ou caráter peculiar de um povo ou comunidade, que passou a ser visto como fonte de valores e de conduta [...]. 221 A "contraposição" se dava por conta da essencialidade romântica que se chocava com as concepções ilustradas de mundo, conforme se compreende a partir de Isaiah Berlin:…”