Neste trabalho desenvolvemos um pensamento crítico acerca dos modos de consumo de fármacos, discutindo sobre a legitimação e/ou proibicionismo crescente dessas substâncias, utilizadas como verdadeiras próteses para aumento de desempenho e felicidade na busca de positivação da insatisfação humana. Para tal, utilizamos o referencial teórico da psicanálise aplicada, tomando de empréstimo concepções da psicanálise fora do campo estritamente clínico para compreensão deste fenômeno em sua dimensão social e política. Concluímos que o discurso relativo ao consumo de fármacos é pautado pelo neoliberalismo contemporâneo, que nomeia o natural humano como deficitário, autorizando subjetivamente o uso indiscriminado e abusivo de medicações que visam supostas melhorias, tratamentos, curas, upgrades. No contraponto, temos o discurso proibicionista, punitivo e condenatório acerca de drogas ilícitas e recreativas, gerando processos sociais cada vez mais excludentes e discriminatórios que localizam apenas nos outros, “drogados”, um modo de pertencimento social que diz respeito a todos nós, pois quando as limitações inerentes à condição humana são socialmente entendidas como negatividades, parece ser inevitável que o abuso de substâncias, sejam elas quais forem, se torne regra.