O mar e a travessia atlântica representam espaços de memória, resistência e construção da identidade afrodescendente nas Américas. A partir de uma pesquisa etnográfica sobre o culto afro-brasileiro do jongo, apresenta-se o imaginário do mar presente na memória oral, em gestos rituais e em cantigas tradicionais. Observa-se que a própria roda de jongo simboliza o mar e a traumática travessia do escravizado. Esse movimento, associado à morte, acompanha a construção de vínculos de solidariedade capazes de forjar uma identidade cultural de resistência política à escravidão. Assim, a roda de jongo celebra o renascimento do escravizado, após cruzar o mar e a morte, e construir o legado africano nas comunidades tradicionais quilombolas. Por fim, o mar assume feições utópicas de retorno ritual à mítica Aruanda, imerso na prosperidade da comunidade afrodescendente e na celebração da viagem da vida.