Tendo como espaço de estudo as ruas compreendidas entre a Praça da Sé, o Terreiro de Jesus, a Baixa dos Sapateiros e a Ladeira da Praça (área da 28), no Centro Histórico de Salvador, este artigo se debruça sobre a forma como convivem nele habitantes e usos aparentemente opostos: moradores antigos e novos, assalariados e informais, policiais e “traficantes”, “famílias” e usuários de crack, programas habitacionais e “invasões”. O ponto de vista que expomos ao longo do artigo é o de um habitante específico: os policiais militares que moram na área desde 2014, em 34 unidades. Entrevistamos 19 deles ao longo dos meses de maio e junho de 2022 e, a partir desse material, avaliamos que o convívio é possível, por um lado, mediante uma ordem instituída pelo Estado (que consiste em traçar fronteiras invisíveis, porém claras, entre os setores/atividades que vivem lado a lado) e, do outro, através das práticas dos habitantes que correspondem ao que Michel de Certeau, em A invenção do cotidiano, chamou de “artes de fazer” ou “jogos” próprios da cultura popular do nordeste brasileiro.