A generificação da intersetorialidade no Programa Saúde na Escola

Abstract

ResumoEste texto, inserido nos estudos de gênero e nos estudos culturais que dialogam com a teorização foucaultiana, utiliza pesquisa documental e análise cultural para escrutinar os modos pelos quais o trabalho intersetorial é definido, descrito e regulado em documentos normativos e materiais didáticos do Programa Saúde na Escola (PSE), a fim de discutir como o gênero atravessa e dimensiona um de seus princípios organizadores -a intersetorialidade. Destaca o que é dito, o que é silenciado, o como se diz e em quais circunstâncias e relações de poder-saber determinadas coisas podem ser enunciadas. Argumenta que, no PSE, noções como "somar esforços", "unir-se" e "articular-se" são mobilizadas para propor modos de fazer educação e(m) saúde que demandam adaptabilidade, multifuncionalidade, flexibilidade e disposição para assumir trabalho a mais, sem remuneração adicional. Discute que esse processo, nomeado "generificação da intersetorialidade", é descolado de corpos biológicos sexuados, mas segue (re)constituindo, reiterando e legitimando exercícios profissionais que naturalizam ações, lugares e arranjos institucionais que tomam atributos femininos como recurso funcional às necessidades da intersetorialidade proposta na política estudada.Palavras-chave: gênero; intersetorialidade; políticas públicas; Programa Saúde na Escola.

Programa saúde na escola: experiências, práticas e desafios na atenção primária à saúde

“…O PSE apresenta-se oficialmente como uma política de aspecto intersetorial, o que determina que a responsabilidade por sua ação deve ser dividida entre os setores de educação e saúde, sobretudo, entre profissionais que atuam nas escolas e nas Unidades Básicas de Saúde. Conforme suas diretrizes, a força da intersetorialidade apoia-se na possibilidade de associação entre os dispositivos públicos da educação e da saúde (Silveira, Estermann & Félix, 2019).…”

“…Assim, essa articulação entre os membros da escola e a os profissionais que compõem a equipe de saúde da família é avaliado como uma ferramenta essencial para envolver a comunidade local e construir, entre os alunos e seus familiares, habilidade individuais (e familiares) para lidar com a própria saúde, dentro da perspectiva do que se define, no âmbito do PSE, de qualidade de vida (Silveira, Estermann, & Félix, 2019).…”

“…Nesse contexto, indica-se que a escola tenha gestão e divisão da responsabilidade na promoção da saúde dos estudantes que dela fazem parte, compreendendo-se que a escola não é espaço de assistência em saúde como é o caso da unidade básica de saúde. De acordo com as premissas do programa, as duas áreas associadas necessitam ocupar-se de determinada vertente em relação à promoção da saúde na comunidade escolar (Silveira, Estermann, & Félix, 2019).…”

“…Compreende-se que, com a ação de ensinar por meio de "sua realidade", o aluno seja captado para enxergar sentido no que lhe é oferecido e que, ao envolver-se, aprenda, nesse circunstância, a cuidar-se. Ressalta-se que a perspectiva "por meio da realidade do aluno", no seio do PSE, assume espaço e posiciona profissionais da saúde e educação para indivíduos que necessitam se envolver para realizar uma leitura da realidade do território em que se encontram a Unidade Básica de Saúde e as escolas (Silveira, Estermann, & Félix, 2019).…”

Percepções de educadores e profissionais de saúde sobre interdisciplinaridade no contexto do Programa Saúde na Escola

“…Por esse motivo, preparar os profissionais para esta formação significa qualificar a educação em saúde nas escolas 8 . As atividades no ambiente escolar geram grande repercussão na comunidade local 9 , tornando a escola um ambiente promissor para promover saúde 10 . Para tanto, a saúde deve ser promovida continuamente nas escolas pelos professores, relacionando trabalho, estilo de vida e uma aprendizagem relacionados à saúde 11 .…”