Resistências frente à medicalização da existência

Abstract

Este artigo tem o objetivo de interrogar as práticas de medicalização dos corpos, no presente, e descrever alguns movimentos, associações e entidades que participam das resistências às práticas medicalizadoras. Busca-se pensar quais são os efeitos desses movimentos, quais são suas pautas e preocupações e como articulam reivindicações e críticas, diante do crescente processo de medicalização das existências e da sociedade. Aborda-se a constituição do objeto e a problemática do trabalho, a partir de Michel Foucault e das contribuições produzidas nas aulas, conferências e publicações realizadas, no Brasil. As resistências são apresentadas, descritas e analisadas no limite do contexto nacional, apesar de também serem pensadas em uma esfera internacional, mas não é o caso neste estudo. A presença das psicologias é marcante em boa parte dos movimentos de resistência e, em vários casos, se tornou a base de crítica à medicalização, nas últimas décadas com atuação relevante neste âmbito político e social.

Caracterização das pessoas atendidas em ambulatórios de saúde mental

“…Embora o profissional médico possa ser percebido como o organizador e, prescritor de tais medicamentos, este por sua vez, também é atravessado por estruturas maiores e mais complexas como a indústria farmacêutica/hospitalar, as pesquisas científicas, a produção biomedicina-biotecnologia, marketing das terapias e dos próprios medicamentos, ou ainda, a política-social capitalista orientada pela mercantilização da vida. Estas estruturas atravessam nossos corpos, nosso pensar e sentir produzindo culturalmente pessoas que aprenderam a demandar o uso destes medicamentos (Lemos, Galindo, Rodrigues, & Ferreira, 2019). Na busca de uma vida mais feliz, as pessoas muitas vezes acabam discriminando aquele Research, Society and Development, v. 9, n. 11, e1279119700, 2020 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i11.9700 profissional médico que se recusa a prescrever ansiolíticos e/ou antidepressivos (Amarante, Pitta, & Oliveira, 2018).…”

“…Nos parâmetros medicalizantes da vida, os médicos são profissionais importantes para a atuação higienista e terapêutica, mesmo partilhando sua terapêutica com outros profissionais com saberes e efeitos variados. Ademais, na atualidade, quando buscamos saúde, principalmente saúde mental seremos, de algum modo, medicalizados (Lemos et al, 2019).…”