“…[...] Seguiu-se um longo vagar, buscar, trocar, uma aversão a todo fixar-se, a todo rude afirmar e negar; e igualmente uma dietética e disciplina que pretendeu tornar o mais fácil possível, para o espírito, correr longe, voar alto, sobretudo prosseguir voando. De fato, um mínimo de vida, um desprendimento de todo apetite mais grosseiro, uma independência em meio a toda circunstância desfavorável, juntamente com o orgulho de poder viver em tais circunstâncias; algum cinismo talvez, algum "barril".212 Ao ler esse trecho, somos levados pela ideia de que, ao entrar no barril de Diógenes, Nietzsche compreende que "mesmo na dor e na desgraça, na doença e no desespero, filosofia se faz a golpes de martelo"213 . Essa temporada no barril, como o próprio Nietzsche admite um pouco mais adiante, proporcionou-lhe um No cinismo, Nietzsche encontra um antídoto prático ao pessimismo schopenhaueriano, um "ascetismo" pagão que incorpora a avaliação oposta da vida, com base na ideia de que a natureza nos equipou com tudo o que precisamos para ser felizes se pudermos treinar fisiologicamente (isto é, nossa physis ou natureza) para viver adequadamente.216Nietzsche faz questão de sublinhar que o que diferencia o ascetismo cínico das outras formas de ascetismo é, justamente, o exercício.…”