Resumo: Este trabalho consiste em uma análise da relação entre acontecimentos de violência contra meninos de 8 a 15 anos, na cidade de Altamira, Pará, e as ações subsequentes organizadas por seus familiares. Narrando suas trajetórias de mobilização, os familiares das vítimas constroem a "luta" como sendo um "caminho cheio de espinhos", pontuado por decepções. Todavia, é justamente esse penoso caminhar que lhes provoca a sensação de proximidade com seus fi lhos e irmãos. A mobilização confi gura-se como recurso encontrado para "fazer alguma coisa" por seus meninos, assim evitando que os crimes pudessem se repetir e também para que as vítimas não fossem jamais esquecidas. A análise privilegiará a dimensão da fala em sua potencialidade curativa, mas que é também capaz de fazer reviver, nos corpos e nas almas de mães, irmãs e pais de vítimas, dores e sofrimentos descritos como sendo os piores de suas vidas.
Palavras-chave: Amazônia, emoções, evento crítico, mobilização social.Abstract: This paper aims to analyze the relationship between events of violence against boys from eight to fi fteen years in Altamira, Pará, and the subsequent actions organized by their families. Narrating their trajectories of mobilization, the victims' relatives create their "fi ght" as a "thorny path", punctuated by disappointments. However, this is just painful walk that provokes the feeling of closeness with their sons and brothers. The mobilization appears as a resource found to "do something" for their children, thus preventing the crimes could be repeated and so that the victims were never forgotten. The analysis will focus on the dimension of speech in its curative potential, but is also capable of reviving, in the bodies and feelings of mothers, sister and fathers of victims, sufferings and pains described as the worst of their lives. idades entre 8 e 15 anos, moravam em Altamira (PA), a cidade cortada pela Transamazônica e, de famílias humildes, andavam pelas ruas da cidade engraxando sapatos, tocando o gado, vendendo peças de fogão ou salgadinhos, indo ou voltando da escola ou de um banho no igarapé. Além destes meninos, outros nove, segundo o coletivo político formado pelos familiares das vítimas, foram também abordados por um estranho que lhes oferecia uma promessa de um trabalho ("eu tenho sapatos para engraxar!"), de uma brincadeira ("vamos ali caçar papagaios!") ou de uma comida ("mais adiante tem mangas mais maduras!") na tentativa de afastar-se das áreas mais movimentadas da cidade.Desconfi ando do desconhecido, alguns meninos conseguiram fugir pouco depois de serem abordados. Outros acompanharam o estranho que logo colocou em seus rostos um pano embebido por uma substância de cheiro forte que provocou seu desmaio. Fernando, Pedro e João acordaram em meio à mata, horas ou dias depois de caminharem na companhia do estranho, e, além de ensanguentados, perceberam-se com o órgão sexual mutilado. Judirley, Jaenes, Klebson e Flávio não acordaram. Seus corpos foram encontrados por familiares que organizavam "mutirões" em sua procur...