IntroduçãoEste artigo é um ensaio sobre as relações entre sofrimento psíquico, individualismo e uso de psicofármacos. Insere-se, assim, na tradição do ensaísmo sociológico. Nosso objetivo ao utilizar essa forma é obter mais liberdade argumentativa e, com isso, defender determinada posição sem a necessidade de vincular o raciocínio a dados empíricos. A liberdade de arriscar interpretações é importante, mas o risco, aqui, tem um preço razoável. Como disse o filósofo espanhol José Ortega y Gasset, o ensaio é "a ciência sem prova explícita". E, sendo "ciência", o rigor e a profundidade serão mantidos como guia da argumentação e como aproximação progressiva do problema do artigo. Além disso, o ensaio permite uma espécie de economia na argumentação que contorna a "certeza indubitável" (Adorno, 2003, pp. 30-31), escapando de algumas ilusões de objetividade.Contudo, embora o texto seja um ensaio, a argumentação tem um pé na empiria, pois problematiza algumas inferências de duas pesquisas em andamento que tocam o tema do artigo 1 . A forma de ensaio permite abordar o problema de pesquisa e sacudi-lo para examinar o que cai dessa sacudida teórica. Com isso, algumas hipóteses de trabalho serão testadas na argumentação. Mas o que, de fato, as primeiras interpretações do material empírico parecem indicar? Uma possível mudança no perfil psicopatológico de clientes e usuários da assistên-