Disputas pela memória no ensaio argentino -o incômodo "Invierno", deJuan José Saer
Cristiane ChecchiaPara um observador postado à beira de um rio, a visão da margem oposta tranquiliza e descansa o olhar, completando a ideia, o arquétipo da noção de rio. Cumpre-se uma expectativa. Com o Rio da Prata, contudo, não se passa o mesmo. Um observador que de uma das margens lança a vista ao outro lado se dá conta de que falta esse elemento fundamental à configuração dos rios: a margem oposta. Se, na maioria dos grandes rios da região, as duas margens são visíveis durante a maior parte de seu transcurso, o que faz com que a "forma" ou a "ideia" clássica de rio se mantenha intacta na imaginação, com o Rio da Prata "esa familiaridad desaparece, y tendemos a representárnoslo sin forma precisa tendiendo vagamente a lo circular" (SAER, 2003, p. 29).