As quatro dimensões do despertar - sonho, fantasia, delírio, ilusão

Abstract

Experiência do despertar do sentido, a psicanálise é uma descoberta que visa revelar aquilo que a religião oculta, pois ela opera sobre o campo do sentido de modo inverso ao da religião. Por isso, a obra de Freud como que desemboca na análise da religião, como se ela estivesse desde o início destinada a isso. A oposição radical entre psicanálise e religião reside na forma antinômica pela qual ambas operam sobre o campo do sentido: a primeira visa obter um efeito de sentido real e a segunda, um fechamento imaginário desse campo.

Do debate sobre o Édipo à dissolução do sujeito em Foucault e Lacan

“…Disso somos levados a concluir, com Jorge (2005a), que "no cerne da sexualidade humana figura uma falta de objeto" (p.139). Ao contrário de Freud, Lacan deu nome a essa falta e declarou que a mesma era sua única invenção teórica -trata-se do objeto a.…”

“…Logo, como explica Jorge (2005a), o sujeito pode reencontrar o objeto a via inúmeros substitutos em seus deslocamentos simbólicos e investimentos libidinais imaginários, porém, nesses reencontros, irá sempre se deparar com a Coisa perdida -encontros faltosos com o real.…”

“…Para o analista Pierre Marie (MARIE, 2004), por exemplo, as psicoterapias atuam tão somente no nível da sugestão transferencial, acrescentando ao sujeito saberes e explicações -nada mais do que novos sentidos para seu sofrimento. Este seria também o caminho da religião (JORGE, 2005b). A psicanálise, por seu turno, entende que o sujeito já é o intérprete por excelência de seus sintomas, de forma que ele precisa não de novas explicações sobre seu sofrimento, mas de um deciframento que apenas explicite os sentidos que ele inconscientemente já construiu.…”

Tempos oníricos: articulações entre sonhos, política e saúde mental

“…A noção de real é trabalhada ao longo da psicanálise lacaniana e se consolida como um conceito muito importante para pensar tanto o trauma quanto o sonho. O real é um registro que compõe a realidade humana, e é da ordem do impossível e do nonsense, o não sentido; também está associado àquilo que escapa às representações da linguagem (simbólico), mas que mesmo assim tenta se inscrever no aparelho psíquico (Jorge, 2005;Faria, 2021). Essa tentativa, sem sucesso, de recursos simbólicos são sinais que algo está operando a partir no real.…”

“…Para Lacan, "um sonho desperta justamente no momento em que poderia deixar escapar a verdade, de sorte que só acordamos para continuar sonhando -sonhando no real, ou, para ser mais exato, na realidade" (Lacan, 1992, p. 54). Ou seja, diante da possibilidade do sujeito se encontrar com um objeto que remete a uma verdade insuportável, o sujeito acorda para impossibilitar esse encontro (pois poderia ser devastador), e adentrar novamente ao mundo da vigília, e assim, poder continuar sonhando, agora em fantasia 49 (Koretsky, 2019;Jorge, 2005). Acordar para continuar sonhando é a pura expressão da continuidade e manutenção de um funcionamento.…”