Resumo: O artigo aborda as transformações sofridas pelo tempo de trabalho nas últi-mas décadas, considerando suas três dimensões: duração, flexibilidade e intensidade. As duas primeiras, concretas e mensuráveis e, portanto, mais visíveis para a sociedade, são frequentemente discutidas, negociadas e legisladas. Menos evidente, por outro lado, é a dimensão da intensidade, foco deste estudo. Num contexto em que os diversos aparatos organizacionais e de gestão têm como objetivo e consequência a intensificação do tempo de trabalho, trazer essa questão para o centro do debate é de fundamental importância para a compreensão do trabalho. Para isso, o estudo se apoia em análise bibliográfica articulada aos resultados da Enquete Europeia sobre Condições de Trabalho e tem, como ponto de partida, a reflexão sobre questões como: o que significa intensidade? Como ela se manifesta? Quais são suas causas e determinações? Quais são suas consequências? Por que está praticamente ausente do debate? Palavras-chave: Tempo de Trabalho, Organização do Trabalho, Intensificação, Jornada, Saúde.
IntroduçãoO presente artigo 2 trata do tempo de trabalho e seu forte processo de transformação a partir dos anos 1980. O efeito mais perceptível desse movimento está na flexibilização do tempo de trabalho, com a implantação de novas formas de compensação da jornada e do aumento dos chamados tempos atípicos de trabalho. A fragmentação e individualização dos tempos de trabalho levam ao surgimento de uma pluralidade de novos tempos laborais, que se colocam, cada vez mais, em total assincronia com os outros tempos sociais -como o da família, do descanso, do lazer, da educação, etc. Menos visível, por sua vez, é o aprofundamento do processo de intensificação do tempo de trabalho, sobretudo a partir dos anos 1980 e 1990, quando se difundem novas mudanças tecnológicas, organizacionais e de gestão, que se somam às antigas manifestações (BOISARD et al, 2002). Em meio a essa profunda transformação, cuja compreensão permanece um grande desafio, a questão que se coloca é "Para onde vai o tempo de trabalho?"A partir dessa indagação discutirei as atuais configurações do tempo de trabalho, considerando suas três dimensões: duração, distribuição -que inclui a flexibilidade -e intensidade (DAL ROSSO, 1996). Analisarei a relação entre tais Recebido: 09.04.12 Aprovado: 16.03.13