Este resumo apresenta resultados de uma pesquisa que teve por objetivo investigar o conceito de angústia na psicanálise de Freud e de Winnicott, tendo como referencial de análise a filosofia de Heidegger. Procuramos direcionar o nosso olhar para as bases ontológicas presentes nas formulações freudianas e winnicottianas sobre o conceito de angústia. Em Freud existem duas teorias a respeito do conceito de angústia. Na obra Inibições, sintomas e angústia o psicanalista aborda, num primeiro momento, o termo como um afeto decorrente do mecanismo de recalque, o qual é visto como “uma tentativa de fuga” (FREUD, 1996a, p. 96). Em um segundo momento, a angústia é considerada um afeto anterior e causador do recalque, por isso, equivale a um sinal de que o princípio regulador do aparato psíquico – que visa a obtenção de prazer e evitar o desprazer – em algum momento falhou. Freud (1996a, p. 111) esclarece que “a força motriz do recalque é o medo de castração” envolvido no Complexo de Édipo. Para o pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott, a angústia deve ser descrita a partir de momentos que antecedem à capacidade de ser submetido ao recalque e ao medo da castração. O olhar winnicottiano está baseado na vulnerabilidade e no grau de dependência do bebê humano em relação ao ambiente que lhe provê cuidados. Para ele, o amadurecer humano passa pelas fases de dependência absoluta, dependência relativa e rumo à independência. Um padrão de falhas ambientais pode obstacularizar o amadurecimento psíquico e, na fase de extrema dependência, expor o bebê a angústias impensáveis. Tais angustias são denominadas impensáveis porque se referem a um momento pré-verbal e pré-representacional, em que ainda não existe Eu integrado. Enquanto a angústia, para Freud, acontece a uma criança de 3 a 5 anos capaz de vivenciar conflitos pulsionais relativos à ameaça da castração, para Winnicott, a angústia se passa nos primeiros meses de vida do neonato e se refere a uma reposta a falhas na provisão ambiental. Em nossa pesquisa nos questionamos: a diferença entre os conceitos de angústia refere-se somente a uma distinção temporal entre ambas ou se trata de uma visão acerca do ser humano radicalmente diferente? Será que a divergência de perspectiva entre Freud e Winnicott se restringe ao modo como versam sobre o conceito de angústia ou esta diferença alcança as bases ontológicas de suas teorias? O que está em jogo é apenas uma questão de terminologia ou uma radical diferença acerca do modo de conceber e descrever o ser humano? Essas indagações guiaram os passos de nossa pesquisa.