ResumoGilbert Simondon, na sua obra Modo de existência dos objectos técnicos, escrita em 1958, pretende responder a uma pergunta de Canguilhem: será que o objecto técnico é mais do que uma mera aplicação da ciência? A sua resposta positiva permite uma nova abordagem da relação entre seres técnicos e seres biológicos. De facto, a ideia de concretização dos objectos técnicos, cerne da teoria de Simondon, permite responder à intuição original do seu professor, George Canguilhem. No entanto, Simondon ainda é um pouco ambíguo, nunca defendendo claramente uma individuação protésica do objecto técnico.
Palavras-chave: Gilbert Simondon, objectos técnicos, processo de concretização
IntroduçãoPorquê estudar Gilbert Simondon, um autor nascido em França no ano de 1924?Por duas razões: uma mais política e outra mais teórica. Em primeiro lugar, porque os recentes desenvolvimentos da técnica e da bio-tecnologia começaram a criar situações insustentáveis na relação entre o homem, a técnica e o ambiente. O pensamento de Simondon poderá ser útil para os movimentos ecologistas na medida em que nos obriga a repensar tanto a visão tecnofóbica como a lógica tecnofílica associada ao mercado e à globalização neoliberal. De facto, «não se pode reduzir o desenvolvimento das formas técnicas a partir do projecto da sociedade industrial nem da expansão do mercado. Os objectos técnicos [de acordo com Simondon] individualizam-se movidos pela tendência à concretização e tendem a formar conjuntos complexos de acordo com o movimento de interconexão técnica entre os diferentes