ResumoEste artigo tem como objetivo apresentar os resultados de análises de um estudo de caso sobre modos de interação estabelecidos entre uma criança com autismo e os adultos em uma brinquedoteca. Apoia-se nos estudos de Lev Semenovitch Vigotski e Mikhail Bakhtin, que abordam o papel da linguagem na constituição da consciência e enfocam os processos de significação que subjazem aos processos interativos. A pesquisa de campo foi realizada em uma brinquedoteca universitária que atendia a crianças com e sem deficiência, uma vez por semana, durante quatro meses. Contou, para isso, com a participação de graduandos do Curso de Educação Física, docentes da universidade e uma psicóloga. Os dados foram registrados por meio de filmagens, gravações em áudio e anotações em diário de campo. Considerando os objetivos do estudo, enfocaram-se os processos interativos estabelecidos entre um menino com autismo de dois anos e oito meses, que não apresenta uma linguagem articulada, e duas pesquisadoras. As análises indicaram que a criança interage com adultos, utilizando recursos não verbais, por vezes sutis, em um curto intervalo de tempo, os quais são significados por eles, permitindo manter a interação e enriquecer as possibilidades de interlocução. O estudo conclui que, mesmo não tendo uma fala articulada, essa criança se constitui como um sujeito em condições de se posicionar de forma ativa e responsiva nos processos interativos estabelecidos com as pesquisadoras, nos quais o papel do adulto é fundamental, de forma a criar condições favoráveis à participação da criança no jogo dialógico.