A historiografia positivista da psicologia prega como um dos fatores responsáveis pela independência científica da disciplina psicológica o divórcio com a filosofia e o compromisso exclusivo com o método experimental. Outra versão é apresentada pela historiografia contemporânea da Psicologia: o pai da psicologia científica, Wilhelm Wundt (1832Wundt ( -1920, nunca preconizou essa separação, muito pelo contrário, advertiu que tal rompimento reduziria o psicólogo a um mero aplicador de técnicas. Mais do que isso, Wundt não defendeu um monismo metodológico pautado no método experimental, pois a "psicologia dos povos" requeria outros procedimentos e técnicas para o estudo dos fenômenos culturais (Araújo, 2010). Não obstante, já é sabido qual dessas versões tornou-se a história oficial e dominante da Psicologia.A evidente predileção pela historiografia positivista da Psicologia ecoa na contemporaneidade. Uma de suas expressões é a ênfase na pesquisa factual em detrimento da pesquisa conceitual. O exemplo mais paradigmático dessa tendência é a ideia de que a expressão lídima da pesquisa científica é aquela pautada pelo método experimental, ou quase experimental. Essa tese foi criticada por outras tendências metodológicas, sob a alegação de que o método experimental não seria capaz de apreender a complexidade do fenômeno psicológico em suas diferentes expressões. A despeito da pertinência e correção dessa crítica, ela ainda não é suficiente para abalar o cerne da questão, pois, não raro, a discussão é deslocada para qual método é mais adequado para investigar o objeto da Psicologia. O privilégio do fato sobre a teoria permanece incólume; a ideia de que pesquisa é pesquisa factual, seja por que método for, subsiste com diferentes roupagens. Talvez seja o caso de atualizar este certeiro diagnóstico de Wittgenstein (1975): "existem na psicologia métodos experimentais e confusão conceitual" (p. 226), dizendo que na psicologia existem métodos (experimentais e não experimentais) e confusão conceitual.Mesmo com a permanência de alguns clichês, tais como o de que a teoria é importante para a prática, há evidências informais e outras institucionalizadas que endossam o desequilíbrio epistêmico em prejuízo da pesquisa conceitual. Diz-se, por exemplo, que a pesquisa conceitual, a rigor, não é um tipo de pesquisa, pois não é orientada por um método. Outros, de modo mais jocoso, alegam que é superficial e subjetiva, uma vez que lida com a interpretação e não com a observação. Outros ainda reclamam que a "pesquisa" conceitual debate aquilo que já está consagrado e canonizado pela comunidade científica, como se fosse uma "pesquisa" que tratasse de truísmos.
Ora, os fundamentos teóricos e epistemológicos da Psicologia já estão prontos, basta erigir o edifício científico sobre eles. Não abramos a "caixa preta" da história da constituição dos conceitos e fatos psicológicos. Não discutamos os compromissos filosóficos das teorias psicológicas, pois o tempo urge e precisamos resolver os problemas que batem à porta da Psicologia. Essas parece...