RESUMO: Trata de uma análise sobre o embate de pressupostos subjacentes à implantação/funcionamento e produção de sentidos dos denominados "Serviços Residenciais Terapêuticos", ressaltando o atual debate sobre o tema. Aponta como este 'dispositivo' tem se conformado em diferentes sociedades que aderiram ao movimento anti-manicomial, tendo como inspiração o trabalho de Basaglia, no sistema psiquiátrico italiano. Delineia-se a 'localização' sócio-histórica desse dispositivo, procurando associà-lo aos embates próprios às diversas realidades. A análise destaca uma relação imanente entre cultura (valores/sensibilidades predominantes nos modos existenciais societários) e duas formas antagônicas de conceber uma vida: como autopoiese, autocriação expansiva ou como conservação, sujeita a leis genéricas e transcendentes, que comportam prescrições e avaliações externas sobre a 'pertinência' do ser vivo. Estes pressupostos ontológico/epistemológicos emergem como centrais no atual debate sobre a loucura, carecendo de uma abordagem mais direta e rigorosa nos discursos/ações que sustentam a criação e funcionamento das moradias ou residências "terapêuticas". PALAVRAS-CHAVE: Residências terapêuticas; desinstitucionalização; pressupostos em saúde.
INHABITING THE CITY: ANALYSIS OF THERAPEUTIC HOME SERVICESABSTRACT: The paper is about the analysis on the impact of presuppositions underlying the implementation/operation and production of meanings of the so-called "Therapeutic Home Services", emphasizing present discussions on the subject. It points out how such a "arrangement" has been adjusted within different societies which have joined the anti-asylum movement, inspired on Basaglia's work within the Italian psychiatric system. While socially and historically "localizing" the arrangement, they are associated to the usual clashes of opposed realities. The analysis highlights an immanent relationship between culture (values/feelings which prevail among social ways of living) and two antagonistic forms of conceiving life: autopoiese, expansive self-creation or surviving, subject to generic and transcendental laws, which involve external prescriptions and evaluation on the "pertinence" of the living being. Such ontological/ epistemological presuppositions emerge as fundamental to the present discussion on insanity, which lacks a more direct and firmer approach in discourses/actions which support the implementation and operation of "therapeutic" homes for those who have been inpatients for an excessive period of time. KEYWORDS: Therapeutic homes; de-institutionalization; presuppositions on health.O movimento anti-manicomial, iniciado na década de 1960, acarretou transformações radicais na atenção à saúde mental, uma vez não se restringir à extinção dos hospitais psiquiátricos, mas à necessidade de acompanhamento àqueles que permaneceram durante anos alienados entre seus muros, afastados do convívio societário. Tais transformações, ainda em processo, exigem tanto rupturas conceituais e valorativas sobre a denominada loucura, quanto alto...