IntroduçãoToda imagem encarna um modo de ver. Inclusive a fotografia, pois as fotos não são, como se costuma supor, um mero registro mecânico. A cada vez que olhamos uma foto somos conscientes, mesmo que de maneira tênue, de que o fotógrafo escolheu aquela vista entre uma infinidade de outras possíveis (Berger, 2007: 6).Partindo do pressuposto de Berger (2007), o presente artigo se propõe apresentar um estudo de campo exploratório-descritivo marcado pela descrição textual e pelo registro fotográfico, pois "de modos muito diversos ambos comunicam. Tanto as palavras e as frases que lemos em um texto, quanto as formas e as cores que vemos na imagem expressam algo sobre o mundo" (Novaes, 2008: 455).Adotamos o uso de textos e imagens por acreditarmos que as imagens conduzirão os leitores a uma condição de interlocutores, para além da nossa maneira de enxergar o objeto em estudo. Dito de outra forma, embora as imagens estejam marcadas pelo "olhar dos fotógrafos", tais imagens permitem que os leitores tenham, em certa medida, suas próprias percepções, ou, nas palavras de Berger (2007), seu modo de ver.O presente paper se aproxima bastante de um ensaio fotográfico, mas sem, contudo, distanciar-se da "tradicional narrativa etnográfica", atribuindo à fotografia um significado de conteúdo etnográfico, como sugerido por Bittencourt (1998).O termo texto tem uma acepção clara -as palavras de um autor expressas em livro ou em qualquer outro escrito -e deriva do latim textum, entrelaçamento ou tecido. Certamente são muitos os tipos de texto: acadêmico, literário, poético, jornalístico, publicitário e assim por diante. No entanto, em todos se percebe a tessitura das palavras do autor, mesmo quando este não é nomeado. Tal não ocorre com a imagem. (Novaes, 2008: 455).Ao buscar realizar um trabalho etnográfico reconhecemos que este caracteriza-se por estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos etc., mas tendo a certeza de que a etnografia se define pelo esforço intelectual para entender e apreender