A herança alimentar e culinária legada pelas famílias de imigrantes italianos que vieram ao Brasil foi construída pela associação de saberes e descobertas. Visando salvaguardar esse patrimônio imaterial, cujo potencial turístico é inegável, o objetivo principal deste estudo é o de entender a transmissão da herança culinária e alimentar entre as gerações de descendentes de imigrantes italianos, nos tempos atuais, na Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul [Brasil]. Utilizou-se a abordagem metodológica qualitativa a partir de entrevistas semiestruturadas com doze famílias de descendentes de imigrantes italianos, quando foram entrevistadas três gerações, a partir de 1920. Além disso, foi realizada a análise de documentos em manuscritos e livros de receitas dessas famílias. A partir dos relatos apresentados, organizou-se a análise do conteúdo em três momentos temporais distintos: 'o novo mundo', 'o mundo em transformação' e o 'mundo atual'. Como resultados, observou-se que as famílias de descendentes de imigrantes italianos buscam preservar as práticas culinárias dos seus antepassados. Houve mudanças, não só na forma do preparo, mas, também, na substituição ou inserção de novos ingredientes aos pratos, especialmente temperos. No entanto, o desenvolvimento econômico e social das famílias, o acesso às novas tecnologias, as mudanças no mundo do trabalho, entre outros fatores tem incentivado, especialmente a terceira geração, a abandonar alguns desses saberes e fazeres.