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Apresentação
COLEÇÕES, MUSEUS E PATRIMÔNIOS DAS CULTURAS NEGRASO título desta apresentação poderia ser As Cores do Silêncio e os Gostos do Silenciamento, empreendendo duas sinestesias para insinuar temáticas como a questão racial, os silêncios da história, a poética e a política da memória. Debate que força passagem quando pensamos nas heranças africanas diluídas no Atlântico e manifestas em coleções, museus e patrimônios ou, em outros termos, como essa gama de expressões integrou um processo de produção de sentidos silenciados (ORLANDI, 2007).São esses sentidos que atravessam o presente dossiê da Revista Mosaico. Os bens culturais de matriz africana foram e são constantemente silenciados em algumas práticas que legitimam ações sobre qual leitura do passado e o monopólio do direito de falar sobre o passado. São colocados em silêncio constitutivo (quando uma prática ou palavra silencia outra) e como silêncio da censura (o que é proibido de ser dito ou expresso) (ORLANDI, 2007). Situação que ganha potência quando analisada nas tramas em torno do campo do patrimônio -compreendido como um campo de poder, que prioriza determinados repertórios culturais e cujo conflito é o motor -e o modo como essas tensões reverberam na escrita da História.A questão é que são esses mesmos mecanismos seletivos que iluminam percursos, nomes e legados, os utilizados para a invenção do anonimato, a fabricação da desimportância, a instituição de vazios e silêncios. Por isso, investigar presenças consiste em um estudo das ausências, fruto de uma engenhosa operação. Dessa forma, os silêncios podem sinalizar "não sua inexistência de fato, mas sua presença como parte do 'inenarrável', estando situadas, por constrições várias, 'fora do acontecimento'" (FANINI, 2009, p. 16). Interditos que são reconhecidos como rastros, indícios que possibilitarão ler os testemunhos a contrapelo, problematizando as intenções de quem os construiu.Portanto, o intuito do dossiê foi reunir artigos que problematizassem questões ligadas às coleções, aos museus e aos patrimônios das culturas africanas e de sua diáspora visando refletir sobre os usos plurais das coleções, as políticas da memória e as diferentes escritas da História, das Ciências Sociais e da Museologia, priorizando trabalhos teóricos e estudos de caso que abordassem as culturas negras em suas diferentes dimensões. Pretendeu, assim, acolher reflexões sobre colecionismo, cultura material, trajetórias de vida, saberes, discursos e relações de poder com enfoque para as expressões culturais afro-brasileiras, bem como para as políticas de patrimonialização daí resultantes evitando naturalizar ausências, subrepresentações e exotismos (SANTOS, 2005). Do mesmo modo, o intuito foi colocar em circulação experiências diluídas ou tidas como insignificantes no processo de elaboração da memória coletiva, a partir de uma política de memória em que se formariam vozes em dissonância ou vozes em falsete na escrita da Nação. Esse rememorar cria