Introdução: tabus e sensibilidadesEste artigo se propõe a analisar, no contexto do candomblé, notadamente de origem Jeje-Nagô 2 , gestos rituais específicos, em particular aquelas restrições chamadas de euó, ou mais popularmente de quizila (coisas que não se podem usar, comer, fazer ou nomear), que na literatura sobre o assunto foram consideradas como tabus. A abordagem antropológica ao ritual é sempre mais dirigida a entender comportamentos e disposições mentais vividas pelos atores segundo modos de ação relacional (Houseman & Severi 1994). Olhar os gestos rituais negativos de acordo com essa perspectiva constitui um dos desafios deste trabalho, norteado pelo busca do tipo de relação que -em se tratando de quizilas -constrói-se entre o iniciado e as entidades do culto.Constatando que, nesse culto de possessão afro-brasileiro 3 , os chamados tabus implicam gestos que acompanham os iniciados no cotidiano, os desafios mais específicos deste trabalho são: 1) entender como tais gestos rituais permitem ao novato se reconhecer nas orientações simbólicas convencionais que não são descoladas de expressões individualizantes; e 2) questionar a respeito dos tabus como modos inventivos de ação, abertos a ajustes contínuos, e que consentem ao filho de santo "se encontrar" no culto.