Fundos de pensão no Brasil do final do século XX: guerra cultural, modelos de capitalismo e os destinos das classes médias

Abstract

O artigo trata do tema dos fundos de pensão brasileiros como um processo de construção social. Pretende mostrar como as transformações sofridas por estas entidades nos últimos dez anos refletem uma lógica social segundo a qual a definição de seu "real significado" se torna objeto de disputa por parte de diversos agentes coletivos. Esses agentes são os seus dirigentes tradicionais, os quadros financeiros que cresceram, grosso modo, durante os mandatos de FHC, e os dirigentes sindicais que, tendo decaído em importância com a queda da inflação no mesmo período, tentaram reconverter-se na administração das entidades. Na primeira parte do texto, apresenta-se um apanhado da história recente dos fundos. Na segunda, ensaia-se uma discussão teórica que propõe estabelecer os sentidos sociais da disputa e suas conseqüências para o entendimento da cena econômica brasileira contemporânea.<br>The article deals with the issue "Brazilian pension funds" as a social construction process. The aim is to show how their recent changes may be understood as resulting from a fierce struggle among three groups of social agents, each one of them trying to establish their "real meaning". The agents are the traditional managers, the new "Chicago boys", and some former unions leaders put out of the show as a by-product of the 90's monetary stabilization, trying to make a new way as pension funds managers. In the first part we have some remarks on the Brazilian's pension funds recent history. The second part is dedicated to an approach of the subject as a path for the development of some theoretical consequences for the understanding of the recent Brazilian economic and social landscape

Sindicalismo, reestruturação produtiva e capitalismo financeiro no Brasil

“…Contudo, pesquisas desenvolvidas por Grün (2004), Jardim (2009), Sória e Silva (2011) indicam que os sindicatos dos setores bancário, eletricitário, telefônico, petroleiro, bem como dirigentes das três grandes centrais sindicais do país, CUT, CGT e FS, passaram a reivindicar a criação de previdência privada para seus associados e participação ativa nos conselhos dos fundos de pensão. Dessa forma, estendem o mandado de representação dos empregados na empresa para os fundos de pensão, se colocando como legítimos representantes e defensores da poupança dos trabalhadores (Grün, 2003(Grün, , 2004.…”

Insertion of pension funds in the infrastructure sector of the city of Rio de Janeiro

“…Os fundos de pensão aqui estudados foram regulados em 1977 pelo regime militar. Naquele momento essas instituições apontavam em dois sentidos: 1) fomentar a criação de uma poupança interna para o país, fazendo com que mais recursos ficassem no sistema financeiro; 2) para atender uma demanda dos funcionários públicos de empresas estatais (GRÜN, 2005). Enquanto os funcionários públicos do restante da administração tinham garantias como estabilidade no emprego e aposentadoria integral, os trabalhadores das empresas estatais perderam um desses direitos, a possibilidade de se aposentar com remuneração integral referente ao último rendimento da ativa.…”

Estado e Mercado no Governo Lula: convergências e divergências no mercado de fundos de pensão / State and Market in the Lula government: convergences and divergences in the pension fund market

“…A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, por exemplo, trocou cinco bilhões da carteira de títulos públicos por investimentos em projetos de infraestrutura e imóveis: "Estamos migrando o portfólio para ativos Governo Lula pensou o Brasil nos seus oito anos de governo, passou pela alteração de uma politica econômica ortodoxa, para uma politica econômica heterodoxa que buscou responder aos principais instrumentos de pressão da 6 A governança corporativa permite que mesmo os acionistas minoritários sejam ouvido nos conselhos das empresas, uma das principais justificativas para participação de sindicatos nesse modelo de gestão empresarial (Grun, 2003). instituída pelo Estado tornou-se parte da visão de mundo instituída pelo senso comum durante doze anos.…”