1998
DOI: 10.1590/s0104-93131998000100002
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Estrutura ou sentimento: a relação com o animal na Amazônia

Abstract: Uma certa tradição antropológica tende a interpretar a simbólica da caça como uma maneira de exprimir a ambivalência, até mesmo a má consciência, que todos os humanos sentiriam ao matarem animais. Se essa interpretação parece legítima no quadro das sociedades modernas, marcadas desde o século XIX por uma evolução profunda das sensibilidades nesse domínio, ela não parece sê-lo para as sociedades pré-modernas, sobre as quais se pode duvidar que partilhem a mesma moral que os cidadãos euro-americanos do fim do sé… Show more

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“…Isso nos permite destacar os mitos como regras culturais (códigos de ética) que atuam no sentido de estabelecer limites e conduzir a ação social dos caçadores. A transgressão das regras culturais da caça pode provocar doenças espirituais (doenças de encante), cujos sintomas incluem a ocorrência de alucinações, fortes dores de cabeça e no corpo e estados febris, que devem ser tratados por meio de receitas ou rituais específi-cos. Na região amazônica, são bastante conhecidas as representações que certos animais possuem na reprodução da vida física e cultural das populações locais (Viveiros de Castro, 1996a;Descola, 1998;Lima, 2008;Barros, 2011). Na abordagem de Lima (2008), as cobras são protagonistas dos mitos sobre a caça entre os Katukina de duas terras indígenas localizadas no Acre, que as cultuam como forma de acesso aos conhecimentos xamânicos e, ao mesmo tempo, temem matá-las ou maltratá-las para não correr o risco de ficarem expostos à sua vingança.…”
Section: O Universo Da Caçaunclassified
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“…Isso nos permite destacar os mitos como regras culturais (códigos de ética) que atuam no sentido de estabelecer limites e conduzir a ação social dos caçadores. A transgressão das regras culturais da caça pode provocar doenças espirituais (doenças de encante), cujos sintomas incluem a ocorrência de alucinações, fortes dores de cabeça e no corpo e estados febris, que devem ser tratados por meio de receitas ou rituais específi-cos. Na região amazônica, são bastante conhecidas as representações que certos animais possuem na reprodução da vida física e cultural das populações locais (Viveiros de Castro, 1996a;Descola, 1998;Lima, 2008;Barros, 2011). Na abordagem de Lima (2008), as cobras são protagonistas dos mitos sobre a caça entre os Katukina de duas terras indígenas localizadas no Acre, que as cultuam como forma de acesso aos conhecimentos xamânicos e, ao mesmo tempo, temem matá-las ou maltratá-las para não correr o risco de ficarem expostos à sua vingança.…”
Section: O Universo Da Caçaunclassified
“…Na Amazônia, estudos de cunho etnoecológico com relação ao tema caça ainda são relativamente tímidos. Contudo, alguns esforços vêm contribuindo com abordagens sobre os conhecimentos e cosmologias de caçadores, como as investigações conduzidas, por exemplo, por Descola (1998), Fausto (2002), Viveiros de Castro (1996a;1996b), Pezzuti (2003), Campos (2008), Azevedo & Barros (2014). Esses estudos têm enfatizado cada vez mais a importância da Etnoecologia para a valorização dos saberes locais e uma gestão compartilhada dos recursos naturais.…”
Section: Introductionunclassified
“…Parece inadequado, porém, estender este rótulo a grupos sociais que preservam práticas tradicionais de uso de animais silvestres como alimentos, ingredientes de remédios ou mascotes. Segundo Descola (1998) e Menegaldo, Pereira e Ferreira (2013), tais atividades seriam, em última instância, estruturantes das próprias cosmovisões e estilos de vida desses grupos. Lamentavelmente, diversos autores (p.…”
Section: Introductionunclassified
“…Adicionalmente, a crescente influência da chamada virada ontológica, capitaneada, nesta última década e meia, por Descola (1998) e Viveiros de Castro (2002) na antropologia, também começa a ser incorporada no campo das etnociências, como nos sugere o recente número especial do Journal of Ethnobiology, intitulado "Integrating ontology into ethnobotanical research" (Daly et al, 2016). Ao questionarem a primazia de conceitos que, em grande parte, fundamentam o pensamento ocidental moderno -tais como de 'natureza' e de 'cultura' -, as revisões epistemológicas propostas pela corrente ontológica (Descola, 2013;Kohn, 2013;Pálsson, 2013;Viveiros de Castro, 2015) podem impactar significativamente nossa compreensão atual sobre os processos formadores do conhecimento humano a respeito do que temos chamado de 'natureza' (Daly et al, 2016).…”
Section: Introductionunclassified