Considerações sobre o despotismo colonial, e a gestão centralizada da violência no Império colonial francês

Abstract

O estudo da questão do trabalho forçado na era colonial implica, inequivocamente, a análise do sistema de violência colonial em si, como um todo sistêmico e estrutural. Com efeito, estes sistemas coloniais, na sua implementação, e apesar das reformas laborais que marcaram a evolução dos impérios coloniais a seguir à II Guerra Mundial, assentavam em filosofias que, embora aparentemente diferenciadas, tinham como objetivo primordial rentabilizar ao máximo as colônias e torná-las lucrativas em beneficio exclusivo da economia metropolitana. Nas páginas que se seguem, pretende-se examinar como o sistema colonial francês quando comparado com seu homólogo britânico, e ainda o belga, estruturou o sistema de violência que serviu de base funcional para que o trabalho forçado pudesse render e articular-se de modo eficiente com os objetivos econômicos coloniais. Neste âmbito, procuraremos analisar comparativamente a economia política da violência que caracterizou o sistema laboral nas colônias de modo geral.

Colonização e qualidade democrática: apontamentos com base no Democracy Index

“…Essa conceituação está baseada principalmente nos trabalhos de Gerring et al (2011), Banerjee e Iyer (2005) e Iyer (2010. O primeiro foi adotado pela Inglaterra e se refere basicamente à prática de incluir chefes e líderes locais na administração da colônia, enquanto o segundo, que foi disseminado pela França e aplicado pelas demais potências, pressupõe a exclusão completa das lideranças locais, com a administração da colônia sendo feita apenas por colonos europeus migrantes (MABEKO-TALI, 2013;GERRING et al, 2011). Assim, [...] o Direct Rule ou a administração direta francesa, que visa à assimilação dos povos colonizados dentro do modelo racista universalista destruidor das identidades não-ocidentais, por outro o Indirect Rule ou a administração indireta britânica, que visa à aculturação dos povos colonizados, num processo que declaradamente pretendia conservar as identidades tradicionais para não criar choques desnecessários que poderiam prejudicar o processo aculturativo.…”

Caracterizando o imaginário belga acerca da imigração congolesa: uma análise a partir do jornal Le Soir

“…E o primeiro desses fundamentos era o fato de que se tratava de uma violência virada para um funcionamento eficaz do sistema econômico, única justificativa historicamente objetiva do processo colonial. Desta forma, as diferenças apenas provieram do modo de estruturar a violência" (MABEKO-TALI, 2013) Mabeko-Tali e Mudimbe se complementam: -o domínio do espaço físico, a reforma das mentes nativas e a integração de histórias econômicas locais segundo a perspectiva ocidental‖ foram feitos através da violência, sendo ela das mais diversas formas possíveis: física, verbal, simbólica, dentre outras. Por exemplo: Mahmood Mamdani (2002) diz que -The starting point of that violence was colonial pacification, which took on genocidal porpotions where settlers set out to appropriate native land, as in southern Africa and Congo‖;Phyllis Martin (1997), em sua obra "Leisure and Society in Colonial Brazzaville", ao discutir sobre práticas de lazer na capital da África Equatorial Francesa, aborda como a forma ocidental de controle do tempo foi importante para a introdução de uma nova dinâmica econômica na colônia, se subscrevendo a formas de contagem do tempo que seguiam uma lógica biológica (como determinar a passagem do tempo através das fases da lua) e que eram amplamente utilizadas em sociedades tradicionais africanasisto também pode ser enxergado como uma forma de violência.…”