Introdução Introdução Introdução Introdução IntroduçãoA parentalidade de gays e lésbicas, também conhecida como homoparentalidade (Anna Paula UZIEL, 2007), tem sido alvo de controvérsias no Brasil, como em outras sociedades ocidentais. Como um fenômeno que vem ampliando sua representação, sobretudo a partir de meados da década de 1990, a homoparentalidade põe em cena os receios sobre a imagem construída do homossexual.Desde o projeto de Parceria Civil Registrada, 1 , 2 proposto pela então deputada Marta SUPLICY em 1995 até os dias atuais, a discussão sobre a parentalidade e conjugalidade de gays e lésbicas feita pelo Poder Legislativo tem sido pautada por moralidades e religiosidades. Recentemente, no cenário político, questões em torno dos direitos reprodutivos e sexuais têm sido freadas nas pautas legislativas. A representação de políticos evangélicos na presidência da Comissão de Direitos 1 O projeto de Lei n. o 1.151/95 encon-tra-se disponível em: http:// www.ca mara.gov.br/proposicoesWeb/ficha detramitacao?idProposicao=16329. 2 Este projeto faz parte de um conjunto maior de reivindicação nacional e internacional dos movimentos gays, que tem sua principal aparição após o surgimento da Aids, na década de 1980. Luiz MELLO (2005) indica que, inicialmente, o movimento pautava-se em busca por direitos patrimoniais, visto que a relação homossexual não era reconhecida sob o status da família. Em seguida, a pauta do movimen-496 Estudos Feministas, Florianópolis, 25(2): 495-518, maio-agosto/2017 RICARDO ANDRADE COITINHO FILHO Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e na Presidência da Câmara dos Deputados, por exemplo, indica a composição desse cenário.O âmbito jurídico, ainda que característico por uma posição de vanguarda nesta discussão, também tem sido permeado por contestações no que se refere a esta temática. À luz desses posicionamentos legislativos e jurídicos estão as estruturas sociais hegemonizadas, as quais reificam, a cada geração, a concepção de família a partir do par heterossexual e da parentalidade procriativa.É o que Michel FOUCAULT (1988) chamou atenção acerca do status de verdade que o sexo e a dimensão da sexualidade incidiram sobre o sujeito a partir da modernidade. Tal "dispositivo da sexualidade" (FOUCAULT, 1988) desenvolveu toda uma técnica de controle sobre corpos e práticas sexuais cuja finalidade tem sido a de normatizar condutas sexuais (e sociais), corroborando uma estratificação e hierarquização não só das práticas em si, mas dos sujeitos praticantes. Assim, diferentemente daquele que tem práticas sexuais procriativas, restritas ao par conjugal e dentro de casa, está o homossexual, fetichizado a partir de noções de desvio como o praticante de atos libidinosos, promíscuos e não procriativos.Dessa forma, o sexo não é mais tido como interditado. Ao contrário, este se torna passível de formas de regulação por meio de um discurso especializado, produzindo uma "scientia sexualis" que foca nos dissidentes/desviantes (FOUCAULT, 1998). Tal perspectiva aloca a heterossexualidade como "nor...