Artigo
Introdução: localizando algumas linhasEm nossas pesquisas recentes temos problematizado algumas formas pelas quais o homoerotismo e a homossexualidade 1 podem ser experienciados, estilizados e performatizados na velhice (SANTOS, 2012; SAN-TOS;LAGO, 2012LAGO, , 2013. Buscamos por cartografias que sinalizassem como o desejo, o corpo e o erotismo se agenciam e se (co)produzem, mesmo diante de alguns fantasmas de abjeção que rondam as existências de sujeitos que corporificam as marcas do tempo e que experienciam uma sexualidade não-heterossexual.A velhice entre sujeitos que se reconhecem e se afirmam como homossexuais/gays ainda pode ser, em alguns contextos, vista como a expressão de uma vida fora de um "mercado sexual" ou mesmo como uma caricatura de um corpo abjeto ou despotencializado, como denunciam alguns autores (MOTA, 2009;SIMÕES, 2004;PAIVA, 2009). Estamos diante de pelo menos duas linhas de estratificação: o corpo enunciado como velho, que se constitui a partir do dispositivo da idade (POCAHY, 2011) e que está eminentemente organizado e circunscrito em enunciados biopolíticos; e a sexualidade, que além de também estar regulada pela biopolítica contemporânea, constitui-se pela regulação da heteronormatividade. Assim, temos considerado que sujeitos interpelados como "velhos" e que se autodeterminam "homossexuais" e/ou que experienciam modos de vida não-heterossexuais têm de se confrontar com uma matriz heterossexual e com um valor de juventude socialmente produzido como um ideal regulatório (que é inclusive o que pode valorar positivamente as experiências da homossexualidade). Diante desses imperativos, a velhice considerada inteligível é pressuposta como heterossexual e a homossexualidade dita "aceita" é inscrita nas marcas do que se entende por "jovem". Nesses termos, o "velho gay" tensiona o jogo das representações normativas sobre a velhice (sempre