ApresentaçãoGênero, famílias e reprodução social (mais ainda quando assim, justapostos) são temas que se pode definir como clássicos no campo da antropologia: sua vinculação, direta ou indireta, ao estudo de redes sociais baseadas em parentesco e à forma com que se conferiu um lugar central a esses estudos, que tão recorrentemente se pensaram (e tão habitualmente foram aceitos como tal) enquanto tipo de núcleo privilegiado de geração de teoria antropológica (Cf. Kuper, 2008), fez com que o desenvolvimento desses temas fosse, ao menos em parte, indiscernível do percurso histórico da própria disciplina. Contextos etnográficos em África, malgrado as várias imprecisões ou o caráter fugidio que essa definição comporta, poderiam facilmente ser tratados como igualmente clássicos (Jardim e Marques, 2013). Seja pelo peso institucional de determinadas linhagens, notadamente, nesse caso, o das ditas tradições britânica e francesa, seja pelo potencial realmente instituidor de algumas obras em particular (obviamente tributário, em alguma medida, das circunstâncias históricas de sua produção), o processo pelo qual, nesse "momento expansivo" (Goody, 1995), a consolidação da antropologia como disciplina erigiu um conjunto de preocupações nodulares (dos quais os temas citados são parte), tornou igualmente canônicos alguns dos cenários em que tal expansão se deu. Diferentes localidades na África subsaariana (talvez só encontrando equivalentes na América indígena e, evidentemente, em distintas partes da Oceania), bem como um arsenal de conceitos e categorias nelas (ao menos em princípio) detectáveis ou nelas emergentes passaram, assim, a compor o vocabulário elementar e o mapa mental de "referências, experiências e afetos" (Said, 2003) pelo qual a disciplina se definiu.De toda forma, parentesco e etnografia africanista são duas categorias que sintetizam acúmulos fundamentais e sobre os quais estabeleceram-se importantes movimentos da disciplina.