ResumoResumo Resumo Resumo Resumo Neste artigo analisa-se a relação entre a personagem Alice, de Quarenta dias -romance de Maria Valéria Rezende (2014b) -, e a cidade de Porto Alegre, pela qual ela deambula como uma flâneuse contemporânea. A personagem, na realidade, se autodenomina andarilha urbana, já que ela passa a ser uma habitante das ruas. A possibilidade da existência de uma flâneuse mulher é debatida com base nos escritos de Janet Wolff (1985), Griselda Pollock (1988) e Lauren Elkin (2016. Segundo Elkin (2016), a invisibilidade é uma característica fundamental para que alguém desempenhe a flânerie, o que seria inviável para uma mulher, que é sempre objeto do olhar masculino nas ruas. A personagem Alice, no entanto, percebe-se invisibilizada em função de sua idade, de sua origem nordestina e por se tornar uma pessoa em situação de rua ao longo desses quarenta dias. A narrativa também possibilita uma série de reflexões sobre as cidades contemporâneas e as formas de apropriação dos espaços urbanos pelas minorias. Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave: crítica literária feminista; flâneuse; invisibilidade; literatura brasileira contemporânea; Maria Valéria Rezende.
The The The The The FlânerieFlânerie Flânerie Flânerie Flânerie of an Urban Walker of an Urban Walker of an Urban Walker of an Urban Walker of an Urban Walker Abstract Abstract Abstract Abstract Abstract This article analyzes the interaction between Alice, from Quarenta dias -a novel by Maria Valéria Rezende (2014b) -, and the city of Porto Alegre, in which she wanders like a contemporary flâneuse. The character, in fact, calls herself an urban walker, since she gradually becomes an inhabitant of the streets. The viability of a character such as a female flâneuse is discussed based on the writings of Janet Wolff (1985), Griselda Pollock (1988) andLauren Elkin (2016). According to Elkin (2016), invisibility is a fundamental characteristic for someone to perform the flânerie, which would be unfeasible for a woman, who is always the object of male gaze on the streets. Alice, however, realizes she is invisible to others, due to her age, her origins and the fact that she becomes a homeless person for forty days. The novel also calls for a series of reflections about contemporary cities and the ways minorities occupy the urban spaces.Para escrever o romance Quarenta dias, objeto de análise deste artigo, Maria Valéria Rezende (2014b) passou quinze dias nas ruas de Porto Alegre, fazendo o que a sua personagem, Alice, faria. Em entrevista para o Estadão, ela disse:Por 15 dias fiz basicamente o que Alice fez. Perguntei para todos onde eu poderia encontrar Cícero Araújo, que era invenção minha, e ia atrás dele. Voltava para casa à noite, mas cheguei a dormir em rodoviária, aeroporto e hospital, onde tinha abrigo, porque uma velhinha de 70 anos não pode abusar e eu não estava para fazer sacrifício da minha vida por causa de uma ideia de romance. [...]. Nessas andanças, percebi que metade do mundo é feita de gente sumida e ...