A atuação prolífica e diversa de Mário de Andrade na imprensa constitui um dos vezos mais recursivos em que transcorre a sua vida-obra. São conhecidas, porém, suas angústias em relação às atividades cotidianas que o absorviam, sentidas ambiguamente como, de um lado, estratégicas para reconciliar a arte e a sociedade à cultura popular brasileira, e, de outro, como tempo roubado à formulação de uma obra mais integrada e teoricamente sistemática. Não há razões para minimizar a relevância pecuniária envolvida na atividade da imprensa -ainda mais em um contexto de mercado editorial tão precário como o do modernismo brasileiro -, tampouco a autoridade decorrente de sua presença contínua nas páginas dos jornais, nos termos da formação de uma rotina intelectual modernista. Ainda assim, sustentamos que suas relações ambíguas com a imprensa não se reduzem inteiramente à matriz dos interesses. Antes, argumentamos que é a ideia de sacrifício -indissociável, a nosso ver, da questão do cumprimento do destino intelectual -que permite articular as diferentes dimensões entre trajetória e obra em Mário de Andrade. E, sociologicamente, essa ideia faz sentido justaLua Nova, São Paulo, 97: 251-284, 2016