Este artigo trata do funcionamento do mercado de trabalho no setor da construção de uma pequena cidade de Minas Gerais. Com base numa etnografia das práticas de trabalho e da gestão da mão de obra num canteiro de tamanho médio, o autor busca mostrar como os imperativos técnicos e organizacionais combinam-se com lógicas de relações de classe para organizar as práticas de contratação, de remuneração e de demissão. Demonstra-se que, visando a uma gestão eficiente e a um controle eficaz sobre o processo de trabalho, se desenvolve, paralelamente aos mecanismos institucionalizados do mercado, proteções informais para o estabelecimento de relações de lealdade e de confiança com os trabalhadores. A hipótese principal aqui discutida é tomada de empréstimo a Alain Morice, que havia sugerido, nos anos 1990, que as relações hierárquicas e a exploração da mão de obra nos canteiros se explicam em parte pelo desprezo por esses trabalhadores manuais sem qualificação advindos das zonas rurais.