Análise das diretrizes brasileiras de obesidade: patologização do corpo gordo, abordagem focada na perda de peso e gordofobia

Abstract

Resumo Atualmente a obesidade é considerada um dos maiores desafios da saúde pública. Ela vem sendo enfrentada a partir do incentivo de mudanças comportamentais individuais, exaltando a perda de peso como forma inquestionável de garantir saúde. Tendo em vista este contexto e a importância das Diretrizes brasileiras de obesidade sobre o campo da obesidade, sua influência sobre a prática profissional, o tipo de tratamento incentivado e o processo decisório em relação aos corpos gordos, foi realizada uma análise deste documento, associada à emergente discussão de como o discurso da saúde justifica e reproduz a gordofobia da sociedade. A análise se deu primeiramente em relação à patologização do corpo gordo e como isto é acompanhado de uma valorização do corpo magro. Em seguida, discute-se a abordagem normativa do peso, que propõe intervenções individuais sempre focadas na perda de peso. Pode-se notar que o discurso presente nas Diretrizes reforça a saúde inerente dos corpos magros, reproduz estereótipos relacionados ao corpo gordo e relaciona diretamente quilos perdidos com melhor nível de saúde.

Riscos causados pelo uso indiscriminado de medicamentos para emagrecer

“…Portanto, o uso deve ser sempre orientado e fiscalizado por um profissional (Silva B.L. & Cantisani J.R., 2018;Paim M.B. & Kovaleski D.F., 2020).…”

“…O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, revela que o número de pessoas obesas maiores de vinte anos, entre os anos de 2003 e 2019, mais que dobrou, devido esse grande aumento, a obesidade pode ser considerada uma epidemia. Por isso, a obesidade deve ser tratada como qualquer outra doença, incluindo além de mudanças nos hábitos de vida, um acompanhamento psicológico e em alguns casos a introdução de terapia medicamentosa (Silva & Cantisani, 2018;Paim & Kovaleski, 2020;Tylka. et al, 2014;Ministério Da Saúde, 2020).…”

“…Por outro lado, o que é preocupante é a banalização do uso de medicamentos emagrecedores. Muitas pessoas que não se enquadram no perfil do paciente obeso com necessidade de tratamento têm acesso a essas medicações e fazem o uso de forma incoerente, sem prescrição e orientação correta, sendo expostas a uma série de eventos colaterais e a dependência medicamentosa (Paim & Kovaleski, 2020).…”

O sofrimento da pessoa gorda na busca de cuidados à saúde: relatos de um ativista do Youtube contra gordofobia

“…Esses aspectos potencialmente resultam em padrões de comportamento e conduta adotados na assistência à saúde, bem como em valores estigmatizantes gerados a priori contra uma pessoa gorda (Yoo & Kim, 2012;Puhl & Heuer, 2009). Na mesma direção, observa-se nas Diretrizes Brasileiras de Obesidade, orientações para profissionais voltadas para comportamentos que valorizam a autovigilância dos "comportamentos obesogênicos", controle do peso, com ênfase no conceito individualizante de saúde, determinado pela superação pessoal (Paim & Kovaleski, 2020; Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica [ABESO], 2016).…”

Mulheres submetidas à cirurgia bariátrica: um estudo reflexivo sobre os cuidados reprodutivos e psicossociais / Women undergoing bariatric surgery: a reflective study on reproductive and psychosocial care

“…Devido as alterações metabólicas e nutricionais, não é recomendado que mulheres engravidem nos primeiros meses, após a CB. Assim, mulheres no menacme, em idade fértil, que submetem à CB, como tratamento de obesidade, deveriam obter informações no pré operatórias sobre uma contracepção segura, e que ao mesmo tempo interferisse o mínimo possível sobre a perda de peso, no controle da anemia ferropriva, na função sexual e no estado psicossocial, colaborando para a reversão de suas comorbidades 5 .…”