Cooperação interprofissional e a Reforma Sanitária no Brasil: implicações para o modelo de atenção à saúde

Abstract

ResumoAs transformações sanitárias, sociais e econômicas ocorridas no Brasil recolocaram antigos problemas e introduziram outros novos para a área de recursos humanos em saúde. Entre os desafios inéditos, destacam-se aqueles decorrentes da implementação de estratégias de reorientação do modelo de atenção à saúde que exigem intensificação dos processos de interação profissional. O objetivo deste artigo foi sistematizar os conhecimentos relativos à cooperação interprofissional como um objeto de pesquisa, destacando sua relevância para a compreensão das relações entre os trabalhadores na produção do cuidado no contexto da reforma do sistema de saúde brasileiro. Aspectos históricos que marcaram as reformas do setor saúde no mundo, e no Brasil em particular, foram apresentados. Tomando-se por base os conhecimentos produzidos por estudos de revisão sobre o assunto, foram sistematizados aspectos que conformam a teoria sobre a cooperação interprofissional com foco nas definições, nos modelos teóricos e nos resultados observados. Para superar as dificuldades impostas pela necessidade de tornar a atenção à saúde mais efetiva, eficiente e equitativa, é indicada uma abordagem dirigida à compreensão dos processos e das relações imbricadas no problema que considere os profissionais como agentes atuantes, dotados de uma prática interessada, admitindo-se que tanto os esquemas de percepção como as organizações e a estrutura possuem gênese social. A compreensão das forças que orientam o conflito e a cooperação interprofissional pode subsidiar a formulação de estratégias para melhorar a produção do cuidado no âmbito do sistema de saúde no Brasil. Palavras-chave: Relações interprofissionais; Comportamento cooperativo; Atenção primária à saúde.

Teamwork in a coronary care unit: facilitating and hindering aspects

“…This may be due to the hierarchy among professions and medical hegemony (17)(18) , which compromises cooperation and communication among agents, integrated work, and teamwork (13,17,19) . This lack of coordination among professionals, among other factors, may reflect the absence of a formal structure that promotes systematic interaction among them (17) , the construction of fragile and uncooperative relationships among them; the process of professional training that can make interaction and collaboration difficult (2,20) while establishing very strict hierarchical limits among different professions (17) . Despite the higher amount of situations with negative references found in the Collaboration among agents category, Management of agents calls the attention for also having only negative references.…”

“…In this context, the results from the referred category are in line with the authors' assumptions, when it shows that working in health care demands interactions among different professionals, and may be substantiated, among other things, through collaborative/cooperation practice. Team integration presupposes active professional adherence supported by the care and contribution provided by colleagues that go beyond the minimum duties carried out at work (17,20) . Collaborative practices facilitate teamwork, favoring the improvement of professional interaction and health care (13,22) .…”

O desenvolvimento da colaboração interprofissional em diferentes contextos de residência multiprofissional em Saúde da Família

“…Um deles diz respeito à formação uniprofissional predominante na graduação em Saúde 4,18 : "Pra minha primeira experiência profissional, encontrei algumas barreiras pessoais de aceitar opiniões que divergem da minha. A residência foi importante pra promover isso em mim, aprender a ouvir mais, eu amadureci muito meu processo de negociação" (RA1 A CIP é perpassada por fatores interacionais, como a receptividade aos seus ideais e o compromisso com a prática cooperada, ou seja, as relações interpessoais interferem diretamente na operacionalização da colaboração 1,16 . Os residentes e preceptores, principalmente de Maracanaú, expressaram esse desafio.…”

“…A colaboração interprofissional (CIP) tem sido considerada mundialmente como fundamental para o enfrentamento dos complexos problemas sociais e sanitários, uma vez que amplia a resolubilidade e a qualidade da atenção em Saúde 1 . No Brasil, a Estratégia Saúde da Família (ESF), enquanto modelo assistencial, tensiona para a CIP, pois organiza o trabalho em equipes, valoriza o uso de tecnologias leves, promove atuação intersetorial e orienta as práticas a partir das necessidades de saúde do território 1 .…”

“…No Brasil, a Estratégia Saúde da Família (ESF), enquanto modelo assistencial, tensiona para a CIP, pois organiza o trabalho em equipes, valoriza o uso de tecnologias leves, promove atuação intersetorial e orienta as práticas a partir das necessidades de saúde do território 1 . Ao mesmo tempo, as evidências teóricas e práticas apontam que, para efetivação da CIP, é necessário garantir educação interprofissional (EIP) na formação dos profissionais de Saúde [1][2][3] . A EIP acontece quando dois ou mais profissionais aprendem um com o outro, a partir do outro e sobre o outro para melhorar a colaboração e a qualidade do cuidado [4][5][6] .…”