O equilíbrio de gênero nas operações de paz: avanços e desafios

Abstract

Este artigo¹ discute os avanços e desafios para se alcançar o equilíbrio numérico entre homens e mulheres que compõem os componentes militares das Operações de Paz das Nações Unidas. Há relativo consenso quanto à importância do aumento da presença feminina em campo; entretanto, necessário se faz analisar em que medida as justificativas para o aumento do número de mulheres contrastam com ideias convencionais sobre os espaços a serem ocupados por elas nos instrumentos de manutenção da paz. Com base em teorias feministas e de gênero, este artigo questiona o discurso apresentado pela ONU em prol da estratégia de Equilíbrio de Gênero.

Uma Perspectiva De Gênero Sobre a Participação Das Mulheres Nos Processos De Paz

“…Primeiramente, sobre o processo de peacekeeping, os homens tradicionalmente se enquadrariam nos campos de batalha e as mulheres operariam funções de apoio e afazeres doméstico, como enfermeiras e cozinheiras (Rebelo, 2013). Portanto, os conflitos e combates foram e continuam sendo associados à masculinidade, através da crença de que os homens são considerados agressivos, corajosos, portadores de armas e dignos de recompensas, enquanto as mulheres mantêm-se em posição inferior, em condição de vítima, marginalizadas e limitadas nos processos agenciadores da paz (Tickner, 1997).…”

“…Segundo Hernandez 2003, valores como virilidade, disciplina, patriotismo e honra são associados aos homens como virtudes próprias não pertencentes às mulheres. As práticas e normas de conduta que limitam a presença da mulher estão presentes principalmente em relações aos postos hierárquicos e nas posições de poder dentro das unidades de combate, sob a justificativa da incapacidade física e de questões relacionadas à privacidade (Rebelo, 2013).…”

“…Dados oficiais sobre as primeiras Operações de Peacekeeping da ONU mostram a evidente predominância masculina (Rebelo, 2013). No período de 1957 a 1979, de 6.250 militares, apenas cinco eram mulheres (atuavam com enfermeiras e médicas), o que equivale a 0,1% do total (Beilstein, 1995).…”

“…No período de 1957 a 1979, de 6.250 militares, apenas cinco eram mulheres (atuavam com enfermeiras e médicas), o que equivale a 0,1% do total (Beilstein, 1995). A partir da década de 1990 houve um aumento desse índice devido os esforços da Divisão Militar do Departamento de Operações de Peacekeeping (Rebelo, 2013), contabilizando 1% de mulheres até 1992, correspondendo a 255 no total. Em 1993, averiguou-se um aumento de 0,7% em relação ao índice anterior (Olsson, 2000).…”