O movimento antipornografia e seus avatares reclamaram falar por todo o feminismo. Felizmente não falam. (Rubin 1984: 302, tradução minha) A pornografia e a visão da sexualidade de que ela está imbuída podem significar muitas outras coisas, (...) entre elas a emancipação feminina. A questão, portanto, é que o sentido da pornografia é socialmente indeterminado e aberto. (Silva 2013: 163) Houve um tempo na Bahia, e não há muito, em que ser feminista significou (ou significa) ser favorável à Lei Antibaixaria² -como ficou nacionalmente conhecido o Projeto de Lei 19.237/2011 -, aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia no primeiro semestre de 2012, e que (...) dispõe sobre a proibição do uso de recursos públicos para contratação de artistas que em suas músicas, danças ou coreografias desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres a situação de constrangimento. (Bahia 2011)Afirmo que não apenas significou como significa porque, se após o decreto da Antibaixaria, em abril de 2012, passamos por um período de relativa quietude na opinião pública no que tange à famigerada lei, os ânimos parecem ter sido revolvidos em agosto do mesmo ano, devido ao lamentável episódio de abuso sexual de duas jovens por integrantes da banda de pagode New Hit, também repercutido em todo o país. Ora, nada surpreendente que parcela significativa das manifestações nas redes sociais tenha remetido o acontecimento à Lei Antibaixaria. Desde as acusações contrárias aos delinquentes -os músicos da banda -àquelas que imputaram culpa às próprias vítimas, as fãs "vadias" (fazendo aqui uma menção ao movimento Marcha das Vadias, sobre o qual me deterei adiante), ambas as