IntroduçãoO artigo aqui apresentado foi construído a partir de informações obtidas em uma pesquisa realizada no ano de 2009, originalmente apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso da Psicologia, ao Centro Universitário Barriga Verde-UNIBAVE. Na ocasião, a referida pesquisa teve como objetivo geral verificar os sentidos produzidos por mulheres que ocupam cargos de chefia em indústrias de uma cidade do sul de Santa Catarina, Brasil, e seguiu o modelo de pesquisa qualitativa proposto por González Rey (2005), que pressupõe a construção de indicadores e zonas de sentido no processo de análi-se. Por se debruçar sobre temas como gênero e trabalho, sua construção exigiu o diálogo com as áreas de conhecimento da economia, psicologia, filosofia, história, sociologia. Os sujeitos entrevistados foram sete mulheres, com idades entre 28 e 53 anos, que ocupavam cargos de chefia em indústrias localizadas em um município do sul de Santa Catarina. A chefia foi caracterizada pelo registro em carteira de trabalho em cargos que possibilitam certa autonomia e liderança, gerência ou chefia de outros trabalhadores ou de processos. Os cargos ocupados pelas entrevistadas no momento da entrevista eram: gerente de setor de peças de reposição, gerente administrativa, gerente do setor de expedição, líder de turno de empacotamento, gerente de recursos humanos, chefe de faturamento e chefe do setor financeiro. Quanto à escolaridade, quatro mulheres concluíram o ensino médio completo, duas são graduadas na área em que trabalham, uma é graduada em uma área distinta da que trabalha e é pós--graduada na área em que trabalha. A aproximação foi realizada por acessibilidade e as informações obtidas por meio de entrevistas semiestruturadas.No presente artigo, propõe-se a revisão e ampliação de algumas discussões outrora realizadas. Em grande medida, as informações obtidas ao longo da pesquisa evidenciaram que, mesmo participando efetivamente de espaços até então considerados como "lugares de homens", os conteúdos dos relatos das mulheres entrevistadas remontam a crença em uma "essência feminina" que, segundo as mesmas, é fundamental para diferenciá-las e qualificá-las profissionalmente em relação aos homens. O que se pretende apresentar é uma análise de tais informações a partir de contribuições teóricas, entre outras, de Judith Butler e Joan Scott. Os trabalhos destas duas autoras "têm posto em questão a diferença entre sexo e gênero, enfatizando ainda mais o afastamento em relação ao essencialismo" (PEDRO, 2005, p. 90). Estudos feministas têm buscado formas de romper com a noção de uma diferença entre homens e mulheres baseada na anatomia. Entretanto, conforme Mara Lago (1999) ultrapassar os limites naturalizantes que marcam concepções acerca das mulheres foi (e ainda é) um grande desafio.
Mulheres em cargos profissionais de chefia:o paradoxo da igualdade