Conflitos com o paciente, cor/raça e concepções de estudantes de Odontologia: uma análise com graduandos no Sul do Brasil

Abstract

Resumo Os processos sócio-históricos ocorridos no Brasil resultaram em desigualdades de saúde entre diferentes grupos étnico-raciais. A fim de investigar tais desigualdades na Odontologia, este estudo buscou avaliar se concepções de seus graduandos variam em função da cor/raça de um paciente, quando confrontados com a discordância dele e a necessidade de identificar fatores responsáveis pelo insucesso do tratamento. Os dados foram coletados com um questionário autopreenchível, respondido por 166 alunos matriculados em um curso de Odontologia no Sul do Brasil. Apresentou-se um caso clínico hipotético aos estudantes em dois momentos distintos: no primeiro, o paciente foi caracterizado com a cor negra; no segundo, branca. Os casos demandavam tratamento de um problema dental idêntico, após o qual foram aplicadas perguntas abertas, cujas respostas foram examinadas por meio da Análise de Conteúdo Temática. Os resultados sugerem um comportamento menos respeitoso e menos autonomia dada ao paciente negro em relação ao branco. Os pacientes negros também foram mais responsabilizados por falhas no tratamento, quando comparados a seus pares brancos. Com base nesses resultados, sugerimos que a formação dos profissionais de saúde se concentre no tema das desigualdades raciais, para melhor equipá-los para a construção de uma sociedade menos desigual.

Race (black-white) and sex inequalities in tooth loss: A population-based study

“…In addition, blacks suffered more posterior teeth extraction when compared to other ethnic groups [ 24 ]. It is possible that the dentist’s decision has a pro-white bias to recommend a more complex treatment, more conservative of the tooth, while for black patients in the same condition, extraction is recommended [ 13 , 59 ]. These tooth extraction practices may also be due to the lower socioeconomic level among the black population, which makes treatments to preserve teeth less accessible.…”

Políticas Públicas Reparadoras No Acesso Ao Serviço De Saúde Da População Negra: Uma Revisão Sistemática

“…Sem dúvidas, os fatores sociais favorecem a diferença no acesso aos serviços de saúde para determinados indivíduos (10) . Por essa razão, os profissionais de saúde deveriam garantir atendimento à população negra no mesmo nível prestado aos demais grupos sociais, tendo em vista que a má conduta dos profissionais também é uma fonte discriminatória dos profissionais da Odontologia (3,10) .…”

“…Esse foi um fato determinante para o estabelecimento do racismo, que pode ser caracterizado como um processo ao qual a sociedade inferioriza um grupo étnico de forma integral. Em 1888, após 358 anos de escravidão, o homem negro tornou-se livre por meio da abolição da escravatura (3) , contudo, esse marco veio isento de medidas de inclusão política, econômica e social (4) , o que não foi suficiente para que pessoas negras pudessem desfrutar de oportunidades semelhantes às demais.…”

“…Os achados clínicos podem ser agravantes para tais doenças (11) , além de comprometer a integridade da saúde e qualidade de vida do paciente, o que evidencia a necessidade de atenção da equipe multidisciplinar ao diagnóstico precoce, bem como o estabelecimento da conduta terapêutica adequada (12)(13) . Isso porque o atendimento a esse grupo étnico é negligenciado (3) e postergado em razão da estrutura de dificuldade de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) (14) .…”

Avanços e desafios do sistema de cotas raciais em instituições brasileiras e públicas federais de ensino superior e a odontologia: uma revisão narrativa

“…Por outro lado, determinados grupos de imigrantes europeus receberam diferentes aportes financeiros e sociais por parte do Estado para residir no Brasil, permitindo-os ocupar uma posição privilegiada na escala social, tanto em termos absolutos quanto relativos. 2 E por que racismo institucional/estrutural? Pois, mesmo em tempos mais recentes, já no século XX, onde transcorreram importantes mudanças sociais no paísmodernização da economia, da urbanização, ou da ampliação das oportunidades educacionais e culturais -, não foi observada uma redução junto às desigualdades raciais.…”