A clínica psicanalítica das psicoses em instituições de saúde mental

Abstract

Nosso propósito é refletir sobre a clínica psicanalítica das psicoses em instituições de saúde mental, tema que de um lado suscita questões e impasses para o método clínico psicanalítico e, de outro, contribui para renovar o lugar da descoberta freudiana. Abordaremos, primeiramente, a clínica das psicoses para, em seguida, refletir sobre a prática psicanalítica em instituições de saúde mental. Neste último segmento, daremos destaque aos depoimentos de psicanalistas atuantes em tais instituições; eles apontam para uma prática feita por muitos cujo foco incide numa clínica do sujeito. O modo de produção subjetiva se dá pela via da "trivialização", uma manobra preciosa usada pelos analistas e demais técnicos que compõem a equipe institucional para neutralizar a ação do delírio. Tal manobra exige do analista uma certa dose de invenção, espírito de humor e um certo desprendimento do desejo de interpretar.

Relato De Experiência Em Estágio Obrigatório No Curso De Psicologia Em Um Projeto Institucional De Inclusão Da Pessoa Idosa

“…O delírio tem sido a via princeps do acesso da Psicanálise ao mundo das psicoses (LACAN, 1985). O delírio é um modo de expressão subjetiva, não devendo ser debelado, mas manejado na perspectiva da construção de uma metáfora delirante, através da qual significante e significado se estabilizam, possibilitando um efeito de significação (MONTEIRO;QUEIROZ, 2006), fazendo suplência ao psicótico para mantê-lo no laço social por meio do discurso que produz.…”

A Escuta Clínica Psicanalítica em uma Instituição Pública: Construindo Espaços

“…Monteiro e Queiroz (2006) referem que, ao não recuar frente às dificuldades que encontra na instituição, o psicanalista depara-se com o desafio de localizar o seu lugar, não perdendo de vista o específico de sua posição, ou seja, a possibilidade de localizar e trazer para a cena o que dela está excluído, fazendo circular a causa do desejo.…”

“…Na proposta em questão, o lugar, a partir do qual se propõe um trabalho de escuta das questões institucionais e de acolhida ao discurso dos agentes institucionais, é enquanto "um a mais" numa prática que é feita por muitos, conforme define Monteiro e Queiroz (2006). Portanto, enquanto membro de uma equipe composta por profissionais de diferentes áreas, entende-se que o específico da profissão é localizar e trazer para a cena aquilo que se repete e que faz sintoma ou provoca passagens ao ato, seja em relação à instituição, aos atendentes ou atendidos.…”

A transferência na atenção psicossocial e a relação de dependência winnicottiana: uma articulação possível?

“…Disto decorre o fato de que os trabalhos psicanalíticos que abordam a clínica em CAPS Adulto apontem as vicissitudes institucionais deste dispositivo de saúde mental. Destacam-se, assim, as ações em equipe interdisciplinar (Figueiredo, 2005;Mendes, 2005;Monteiro & Queiroz, 2006, Vieira Filho & Debieux, 2010Vasconcellos, 2010e Costa-Rosa, 2011, o modelo de trabalho por Referência Técnica (Monteiro & Queiroz, 2006e Miranda & Campos, 2012) e a importância da supervisão clínica nos CAPS (Abreu, 2008;Delgado, 2008;Alkmim, 2009;Alberti & Palombini;2012e Silva & colaboradores, 2012. Contudo, observa-se uma carência de contribuições que enfatizem a produção de mecanismos clínicos para a reabilitação do paciente, a partir de um aporte psicanalítico.…”

“…Outro fator importante à forma como a transferência se constitui em CAPS é a clínica entre vários profissionais (Figueiredo, 2004(Figueiredo, e 2005Mendes, 2005;Monteiro & Queiroz, 2006e Costa-Rosa, 2011. As diferentes disciplinas e, consequentemente, as diferentes concepções sobre ser humano, psicopatologia e de tratamento em saúde mental promovem diferentes formas de manejo da relação com os assistidos.…”