1 A tradução desse e de outros textos citados aqui diretamente da língua francesa é minha. Este artigo discute a relevância contemporânea do conceito de "reformas revolucionárias", elaborado por André Gorz na década de 1960 e por ele retomado em seus escritos mais recentes. Minha tese aqui é que tal conceito continua atual e tem sido apropriado, direta ou indiretamente, por outros teóricos sociais contemporâneos, ainda que, muitas vezes, esses últimos utilizem uma linguagem diferente. Para tanto, começo por apresentar, em linhas gerais, os contornos do conceito. Em seguida, mostro como ele foi utilizado por Gorz ao longo de seus escritos; e, por fim, eu o discuto a partir dos trabalhos de outros autores, focando em alguns temas dos debates contemporâneos. Entre as diversas contribuições de André Gorz para a teoria social crítica, o conceito de "reformas revolucionárias" destaca-se, em particular, por ser um articulador de praticamente toda sua produção teórica. Ele foi elaborado durante a década de 1960 para responder aos impasses da estratégia até então dominante no movimento operário europeu daque-1 la época, que, segundo Gorz (1964), oscilava entre o reformismo social democrata, que se contentava em gerir o "neocapitalismo", e o esquerdismo, que acenava com um longínquo futuro socialista, sem se preocupar em mostrar o caminho para lá chegar. Com isso, ficava-se entre o conformismo adaptativo de um e o radicalismo inconsequente do outro, criando um impasse que só contribuía para enfraquecer e paralisar as lutas operárias em direção ao socialismo. Foi com o objetivo de superar tal impasse que Gorz se debruçou sobre o tema, principalmente nos três livros que publicou durante a década de 1960: Stratégie Ouvrière