“…Ao entrar na "República das Letras", deve-se deixar o dogmatismo à porta e pôr-se entre parênteses a realidade social que não a definida pelo conhecimento e pela busca da verdade (Masseau, 1994: 18-19). Tratava-se, em síntese, de praticar um ideal de comunidade igualizada pelo mérito e baseada no intercâmbio entre pares, ideal ressalvado por Peter Burke ao ponderar que alguns dos seus membros eram, porém, "mais iguais que outros", havendo "mestres e discípulos, professores e aprendizes, patronos e clientes" (Burke, 2011 Questão que é vista de modo diferente por Reinhart Koselleck, ao situar a República das Letras dentro de uma perspectiva maior sobre o Estado Absolutista (Koselleck, 1999). Para o homem que se posicionara autônomo face aos detentores de poder político, a República das Letras representara um espaço de liberdade e de crítica, capacidade racional que se desejara separar do Estado, em nome da delimitação entre moral e política, para, também com base nessa separação, estendê-la "de maneira aparentemente neutra até submetê-lo à sua sentença" (Koselleck, 1999: 88).…”