ResumoDurante a década de 80, um conjunto de mobilizações emergem no cenário agrário brasileiro representando as lutas das comunidades tradicionais contra diferentes formas de subalternização material e simbólica e pela afirmação das suas territorialidades. Um exemplo da invisibilização destes grupos pode ser observado nos livros didáticos utilizados nas escolas brasileiras onde diversos sujeitos do campo são apresentados a partir do olhar eurocêntrico, o que leva a uma distorção e ocultação de suas práticas, saberes e conflitos. É fundamental, deste modo, a construção de materiais didáticos que tragam à tona suas geo-grafias a partir da ecologia de saberes, fruto da dialogia entre os conhecimentos populares e científicos. Neste sentido, apresentamos alguns caminhos possíveis trilhados por Comunidades Tradicionais do Paraná, mais especificamente benzedeiras e faxinalenses que buscam, na construção de materiais didáticos, outras formas de visibilização, que nesta perspectiva passa a ser uma prática contra-hegemônica, pois dá voz àqueles que são tratados como o atraso do campo brasileiro, demonstrando suas (r)existências frente ao avanço do capitalismo no campo e à profundidade e diversidade de seus saberes. (CRUZ, 2013, p.127
Palavras-chave:
1.A invisibilidade/desqualificação de saberesOs Povos e Comunidades Tradicionais são grupos formados por uma grande diversidade de origens sociais, étnicas e culturais, o que implica uma grande pluralidade de sujeitos coletivos protagonistas. São as quebradeiras de coco, pescadores artesanais, cipozeiras, benzedeiras, faxinalenses, entre outros que emergem nesse cenário, na luta pelos seus direitos para enfrentar as situações que lhes são adversas. Tem como característica marcante uma forte relação de interdependência com a natureza e um vínculo afetivo intenso com o lugar onde vivem (ALMEIDA, 2004; CRUZ, 2013).Atualmente, esses grupos sociais vêm marcando a cena agrária brasileira devido aos inúmeros conflitos ocasionados pela expansão capitalista no campo, relacionados ao avanço das agroestratégias, acionadas pelo interesse do agronegócio, com fins de expandir seu domínio sobre amplas extensões de terras no Brasil "por meio da intensificação de medidas que objetivam remover obstáculos jurídico-formais e político-administrativos, resultando em processos de desterritorialização no campo brasileiro" (ALMEIDA, 2010 p.101). Estes movimentos, tomados em seu conjunto, reivindicam o reconhecimento jurídico-formal de suas formas tradicionais de ocupação e uso dos recursos naturais (ALMEIDA, 2008, p.19).A luta desses povos está relacionada com a invisibilidade social que é evidenciada na inexistência de estatísticas e censos oficiais relacionados a esses povos, o que levou estes grupos a elaborarem seus próprios levantamentos na tentativa de afirmar sua existência coletiva em meio a tensões, disputas e pressões que ameaçam seus direitos étnicos e coletivos garantidos pela Constituição Federal de 1988 e diversos outros dispositivos jurídicos [...] sociologia das ausências é um proce...