MACHADO, UM HIATO LITERÁRIOO Brasil está presente na obra de Machado de tal forma que não podemos considerar inócua ou obsoleta qualquer tentativa de interpretação sociológica ou antropológica de sua obra. No entanto, devemos ter consciência de que seu projeto não era nacionalista ou de denúncia ideológica, mas estético. Tomando as palavras de Nabuco, seu palco era o mundo e não somente o Brasil. Seu sistema literário era o ocidental e não exclusivamente ou principalmente o nacional. A tocha que Machado recebeu (como quer chamar Antonio Candido), menos veio de Macedo, Manuel Antonio ou Alencar e mais de Sterne, Cervantes e Swift.A crítica (e porque não também a teoria) literária brasileira vem sofrendo, durante seu percurso, um duro prejuízo decorrente de sua forte perspectiva sociológica. De forma geral, esse viés sociológico tem a mania de um nacionalismo literário, que põe em segundo plano aspectos fundamentais da retórica e da ficcionalidade da obra de Machado. Isto, sempre em prol do reconhecimento da nacionalidade de seus romances e contos (LIMA, 2006, p. 287). Quem pretende entender o nascimento do narrador das Memórias póstumas deve saber que essa obra não é fruto do contexto social brasileiro, mas do contexto literário ocidental.