São Paulo: exercício de memória

Abstract

M SEU DESENVOLVIMENTO histórico, São Paulo foi muitas vezes comparada a Liverpool, Manchester, Chicago, Milão. No dealbar de um novo sé-culo, ocorre-nos perguntar: como São Paulo alcançou o século XX? Como se transformou numa das três maiores e problemáticas metrópoles do planeta, que desafiam a inteligência de urbanistas, historiadores, cientistas sociais, arquitetos e políticos, para não dizer a sensibilidade de seus cidadãos?Debuxar, num rápido apanhado, a história que nos trouxe à contemporaneidade, nestas partes, eis o objetivo deste ensaio. Ensaio de risco, necessariamente lacunar, de vez que a historiografia sobre região vem se aprofundando muitíssi-mo, sobretudo nos últimos vinte anos, revelando aspectos e sentido de uma história regional que -curioso paradoxo -estavam na sombra. História rica e cheia de desafios, a começar pela situação marginal em que se achava relegada a Capitania no período colonial, depois tendo vivido o boom do café no século XIX, a mal-acabada abolição em 1888 do trabalho escravo e, na seqüência, mudanças profundas com o impacto da imigração em massa e, já no século XX, com a industrialização.Em 1990, num de seus incisivos diagnósticos debatidos no IEA, Milton Santos notava que a região de São Paulo praticamente já nascera moderna. Tanto pelo lado da produção, como pelo lado do consumo. Isso, graças à importação, pelos imigrantes, de hábitos e aspirações, mas também pelo meio ambiente construído, propício às transformações. No Brasil, segundo o geógrafo-urbanista, a mecanização do espaço geográfico ocorre com maior força na hinterlândia paulista, criando as condições para uma expansão sustentada. Mais, constatava Milton: "A cada movimento renovador da civilização material nos países centrais, São Paulo e o seu retro país reagem afirmativamente, adotando o novo com presteza e assim, reciprocamente, gerando crescimento" 1 . Qual o sentido geral dessa história estressada, que nos convoca ao presente, nervosamente, numa era de reconstrução como a que se vive nesta cidade tão machucada, sobretudo por conta das duas últimas administrações brutalizantes?Com efeito, o crescimento do maior conglomerado do subcontinente, capital do Estado, com sua constelação de cidades de grande porte (Santos, Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, além das vizinhas São Caetano, Santo André, São Bernardo e Diadema), a verticalização em ritmo vertiginoso após os anos de 1930, a massificação e a cosmopolitização dos costumes e men-

Tecendo a história de São Paulo: tecelagens como patrimônio cultural

“…Considerando que o início da atividade industrial no Brasil é tardia em relação aos países europeus e mesmo das Américas -especialmente em virtude do Tratado de Methuen entre outros dispositivos legais da Coroa -, é somente em fins do século XIX que os primeiros empreendimentos industriais começam a se desenvolver no país, especialmente após a Proclamação da República (1889). Até então, apenas atividades isoladas e bastante precárias tiveram início, porém em escala de atendimento local e sem expressividade econômica (SANT´ANNA, 1944;MOTA, 2003).…”

O Esporte E a Modernidade Em São Paulo: Práticas Corporais No Fim Do Século Xix E Início Do Xx

“…Tendência que permaneceu até os anos de 1930, quando 67% dos paulistanos eram estrangeiros ou filhos de estrangeiros.Uma cidade sustentada por uma economia cafeeira, onde o volume de café exportado pelo porto de Santos cresceu de 2,5 milhões de sacas em 1888-89 para 7,8 milhões de sacas em1900 -1901(SAEZ, 2004. Esse crescimento nas atividades econômicas sustentou também o crescimento de uma burguesia ligada ao café, que por sua vez se identificava com a tradição do campo, mas também aspirava pela ostentação dos códigos de distinção que a modernidade trazia.Já no final do século XIX, a cidade ostentava o conforto da energia elétrica, promovido pela instalação no país da empresa canadense "The São Paulo Light and Power Company"; e da iluminação pública a gás (SAEZ, 2004;MOTA, 2003).…”