O artigo analisa alguns aspectos das Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, publicadas postumamente em 1953. A questão principal diz respeito a uma certa ambiguidade envolvida na obra: a intenção expressa de registrar as arbitrariedades praticadas na cadeia também serviu para a distinção do autor, guindando-o ao pleno reconhecimento público como escritor e exemplo de intelectual vitimado pelo autoritarismo. 1 Procura-se dialogar implicitamente com uma proposta metodológica de Gustavo Sorá, 2 para quem a análise de memórias envolve compreender as inter-relações da obra em si com a edição do livro, o autor e seu público, destacando também a importância da questão do passado visto do presente, bem como a circulação nacional e internacional do autor e da obra. Ainda que de modo sintético, esses aspectos serão abordados a seguir.