2006
DOI: 10.1590/s0103-20702006000100005
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Levantes urbanos na França

Abstract: Novembro de 2005: redes de televisão do mundo inteiro transmitiram por vários dias as impressionantes imagens de automóveis em chamas nas periferias urbanas da França. Os jornalistas explicavam que a "crise do modelo social de integração" francês estaria provocando a revolta de jovens sem diploma, desempregados, filhos de imigrantes, vítimas constantes do fracasso escolar, do racismo e da exclusão. A expressão émeute, utilizada para designar esses protestos urbanos violentos, riot em inglês, não tem equivalent… Show more

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“…Estas desordens, segundo Wacquant (2005), combinavam duas lógicas: a de ser um protesto contra a injustiça racial com raízes no tratamento discriminatório, e a de ser uma manifestação da população mais empobrecida, que se revolta contra a privação econômica e as desigualdades sociais crescentes; desordens que se valiam da arma única que praticamente possuíam: a ruptura do "pacto social" ou do "contrato social" com o recurso da força. Peralva (2006), diferentemente de Touraine, dirá que os levantamentos de 2005 na França eram "expressivos", e não tanto na ordem da "instrumentalidade", sugerindo a presença de casseurs políticos cuja perspectiva seria protestar contra políticas públicas que pretendiam adormecer os males que afetavam as populações dos bairros populares e retardavam as mudanças efetivas das suas condições de vida. De uma forma ou de outra, a violência era o produto de um "sujeito coletivo" que parecia ter as mesmas reivindicações dos jovens de classe trabalhadora, quer dizer, emprego, ensino de qualidade, moradia, acesso a serviços públicos em geral e tratamento justo por parte das "forças da ordem".…”
Section: A Violência Previsívelunclassified
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“…Estas desordens, segundo Wacquant (2005), combinavam duas lógicas: a de ser um protesto contra a injustiça racial com raízes no tratamento discriminatório, e a de ser uma manifestação da população mais empobrecida, que se revolta contra a privação econômica e as desigualdades sociais crescentes; desordens que se valiam da arma única que praticamente possuíam: a ruptura do "pacto social" ou do "contrato social" com o recurso da força. Peralva (2006), diferentemente de Touraine, dirá que os levantamentos de 2005 na França eram "expressivos", e não tanto na ordem da "instrumentalidade", sugerindo a presença de casseurs políticos cuja perspectiva seria protestar contra políticas públicas que pretendiam adormecer os males que afetavam as populações dos bairros populares e retardavam as mudanças efetivas das suas condições de vida. De uma forma ou de outra, a violência era o produto de um "sujeito coletivo" que parecia ter as mesmas reivindicações dos jovens de classe trabalhadora, quer dizer, emprego, ensino de qualidade, moradia, acesso a serviços públicos em geral e tratamento justo por parte das "forças da ordem".…”
Section: A Violência Previsívelunclassified
“…Por outro lado, a violência não é o simples efeito da "definição de uma situação" na ordem das frustrações e da desintegração social, mas o mecanismo pelo qual se percebe que as chances de uma abertura de espaço de expressão social vão aumentando e se intensificando, dinâmica na qual o lugar dos meios de comunicação resulta fundamental (Peralva, 2006). Ao mesmo tempo, e como bem sustenta Wieviorka (2006), a violência também tipifica uma "negação da subjetividade" e uma negação de reconhecimento sociocultural, assim como uma reação à ausência de visibilidade social.…”
Section: A Violência Previsívelunclassified
“…Neste contexto, os jovens, no caso francês, constituem um dos grupos mais atingidos, chamando sobre si a atenção de gestores de políticas públicas e de atores diversos da sociedade civil. Exemplos disso foram as émeutes de novembro de 2005, explosão urbana violenta, neste caso marcadamente juvenil, que associava o atributo de irracionalidade, de tipo emocional, para manifestar seus sentimentos após a morte de dois jovens quando estes fugiam do controle da polícia, por medo, mesmo sem terem nada a esconder e de não estarem envolvidos com nenhuma contravenção (Peralva, 2006), e o movimento contra o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), que neste caso levou 3 milhões de jovens às ruas e reverteu a implantação de mais uma política de precarização do trabalho na França.…”
Section: Reflections On the Quest For A New Quality In Education: Relunclassified
“…78 Em todos esses casos, haveria a concomitância de alguns fatores: a) o envolvimento da polícia nos episódios que desencadearam os protestos, b) o bairro de residência da vítima era o local de origem dos protestos, mesmo quando a morte violenta havia ocorrido em outro lugar e c) a presença de "quebradores" -muitas vezes ligados a grupos anarquistas -e de jovens descendentes de imigrantes provenientes das periferias urbanas. Peralva (2006) também traçou um quadro temporal, em três atos, de desenvolvimento do confronto. Em um primeiro momento, o protesto seria limitado ao bairro de residência da vítima.…”
Section: Sobre a Natureza Política Dos Protestosunclassified
“…Segundo o autor, mesmo que distantes do sistema político tradicional, os manifestantes defenderiam valores políticos já consagrados na sociedade e na vida institucional, tais como o direito fundamental à vida, contra o abuso de poder da polícia e contra a exclusão social(LAPEYRONNIE, 2006).Entre os que reconheceram um significado político pleno aos manifestantes, encontra--se também a socióloga franco-brasileira, Angelina Peralva. A partir de pesquisas empíricas, a autora identificou alguns traços específicos da realidade francesa que se repetiriam desde os confrontos dos anos 1990 e que lhe permitiriam identificar um repertório recorrente(PERALVA, 2006). De acordo com a autora, o termo "émeute" não seria o mais apropriado para descrever os acontecimentos de 2005.…”
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