Dos deslocamentos de uma jovem pesquisadora no território são-carlense em um domingo ensolarado avista-se um senhor praticante da travessia de uma calçada para outra. A sacola com estampa do supermercado revela o motivo do deslocamento matutino. A cor cinza do seu chapéu revive o nonno. Ao permitir a prática do ouvir abrese passagem à identificação e, por fim, se alcança o lugar do afeto. O lugar que dá língua para afetos, mergulhada na intensidade do tempo, se atenta à linguagem dos acontecimentos, devorando elementos para a composição das cartografias subjetivas que se fazem necessárias. A cartografia carrega uma cognição provisória: para os geógrafos é a representação de um todo estático, a representação do mundo que parte de um ponto de vista de quem propôs. Numa lógica para a composição de processos subjetivos, Rolnik (2016), afetada por princípios deleuze-guattarineanos, apresenta as marcas dos afetos produzidos pela experimentação. Cartografia, nessa explanação, acompanha e se faz ao mesmo tempo em que se tem o 'desmanchamento' de certos mundos e a formação de outros que se criam para expressar afetos (ROLNIK, 2016). Interessa-nos emprestar estes princípios postos pela cartografia sentimental de Rolnik (2016) para entrelaçar narrativas e tecer a multiplicidades que somos, enquanto corpos abertos que se dispersam pela cidade, ocupando fissuras poéticas em seu tecido 3 (Fig. 1).Mas, afinal, o que pode um corpo? De que afetos ele é capaz de irromper? Não cabe a nós definir tais corpos em deslocamento, nem pelo seu gênero e sua espécie, muito menos por sua função, mas compreender aquilo que podem, pelos afetos dos quais são capazes. Corpo-geografia, que experimenta e pode cada vez. Um corpo que escolhe por meio de acontecimentos que efetivam afetos (Fig. 2).